Mal foi conhecido o single Dance of the Clairvoyants, que antecedeu o lançamento de Gigaton, o 11º primeiro álbum dos Pearl Jam, as opiniões dividiram-se como é raro acontecer entre os fãs duma banda tão consensual. Apesar de alguns momentos mais experimentais ao longo dos quase 30 anos de carreira, como nos cada vez mais distantes álbuns Vitalogy (1994) e No Code (1996), nunca se tinham afastado tanto da matriz clássica do rock como neste enigmático tema, assinado em conjunto pelos cinco membros (Eddie Vedder, Mike McCready, Stone Gossard, Jeff Ament e Matt Cameron), que parecia colocá-los na rota de um novo pós-punk, algures entre David Byrne e uns Arcade Fire. Sacrilégio para uns, jogada de génio para outros, a canção acaba por funcionar como metrónomo de um álbum como há muito os Pearl Jam não apresentavam; pela variedade, mas também pela fidelidade à história e à memória do grupo.
É certo que Lightning Bolt, o álbum lançado há sete anos, pouco ou nada entusiasmou e acentuou o risco de os Pearl Jam se tornarem uma banda quase irrelevante em termos artísticos, como os U2; ou, pior, uma mera versão de si mesma. Gigaton foge desse caminho. Basta ouvir a descarga rock de Who Ever Said e de Superblood Wolfmoon, os dois temas de abertura, candidatos ao estatuto de clássicos em futuros concertos. Mas há mais: Gigaton, é um disco deste tempo, banda sonora para um mundo caótico (quis o destino que fosse lançado em plena pandemia) e dividido, sobre o qual a banda não se coíbe de tomar posição, como acontece em Quick Escape, quando falam em “fugir para um sítio que o Trump ainda não tenha fodido”. Um mundo onde há, também, lugar para a esperança, como aquela sussurrada em Seven O’Clock, porventura a mais bela canção do álbum, a fazer lembrar ambientes springsteenianos.