Fazem parte daquele lote de bandas que não inventaram a roda no século XXI, mas trataram de a reinventar. No caso dos Tame Impala, conseguiram, a partir da remota cidade de Perth, na Austrália, reavivar o psicadelismo rock, contribuindo para uma tendência que não tardou a replicar-se e a globalizar-se, viajando à velocidade do som e da luz dos nossos dias.
Banda centrada no talento e na visão de uma só pessoa – Kevin Parker, millennial nascido em 1986 –, parecia recuperar, e atualizar, no primeiro álbum (InnerSpeaker, de 2010) o espírito de Syd Barrett e dos primeiros discos dos Pink Floyd. Mas foi em 2015, com Currents, que, com temas como Let It Happen e Eventually, definitivamente estilhaçaram as résteas de fronteiras entre universo indie alternativo e mainstream, chegando ao patamar de banda sonora de centro comercial e foco de atenção dos mais celebrados e populares intérpretes e produtores da pop contemporânea.
Cinco anos depois, este The Slow Rush segue a mesma trilha. O tempo que demorou a concretizar é a medida do perfeccionismo de Kevin Parker, espécie de Brian Wilson na sua obsessão solitária com métodos e resultados do seu labor musical. Esse traço sente-se bem, por exemplo, nas várias camadas sobrepostas de Borderline (que já se ouve por aí desde abril do ano passado e é a mais orelhuda das novas canções) ou da última faixa, One More Hour.
A música dos Tame Impala continua a ser uma espiral de referências, com propensão para nos elevar uns centímetros acima do chão. Kevin Parker parece ter encontrado a fórmula mágica para soar rétro, contemporâneo e futurista ao mesmo tempo (o desejo de muitas bandas neste século). O psicadelismo mais sujo dos primeiros tempos foi dando lugar, também, a umas melodias de sintetizadores que nos transportam para bandas bem populares nos anos 70/80. É impossível ouvir os primeiros segundos de It Might Be Time sem nos lembrarmos dos Supertramp. E, depois, é inevitável pensarmos nos ciclos da vida pop: o que hoje é cool amanhã é desprezivelmente anacrónico e depois de amanhã já pode ser cool outra vez.
Veja o vídeo do tema “Lost in Yesterday“