É caso para dizer que a música o salvou. Graças a ela, Filipe Sambado conseguiu o que todos almejamos: estabilidade, emocional e material, para fazermos o que realmente queremos, como e quando quisermos. É essa a derradeira mensagem de Revezo, o álbum que sucedeu ao muito elogiado Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo, de 2018, em que narrava as histórias de uma cidade em mudança, feita de gentrificação, preconceitos vários e amores fugidios, embaladas por uma pop transgressora, que já então lançava algumas pistas para um futuro agora alcançado, no modo como já piscava o olho a mestres como José Afonso e Fausto Bordalo Dias. Entretanto, a vida de Filipe Sambado mudou, não só ao concretizar o sonho de fazer da música o seu ganha-pão mas também a nível pessoal, que incluiu a descoberta de uma nova casa a dois.
Musicalmente, trocou o psicadelismo pop dos registos anteriores por uma folk construída a partir da tradição. “É tão bom ter a casa ao nosso jeito”, canta em É Tão Bom, uma espécie de chula pop, embalada por um suave som de flauta. Segundo o próprio, trata-se de um trabalho “mais ponderado e apaziguado, mas nem por isso menos consciente”.
Revezo é, assim, feito de um conjunto de canções aparentemente inspiradas na pacatez do lar e na descoberta de uma nova vida a dois, mas a um nível mais profundo acaba por revelar uma visão crítica sobre a sociedade, num disco de contrastes em que tudo o que é dito tem sempre algo em contraponto. “A mim quem me dera não ter segunda-feira para permanecer aqui”, desabafa em Paçoquinha para a Novela. No fundo, em Revezo Filipe Sambado assume o privilégio de estar como está, fazendo o que lhe apetece.