A música de Lana Del Rey continua a soar a verão mas, agora que a estação acabou, torna-se evidente que as suas novas canções sobrevivem – sem mácula – à sazonalidade. Ao quinto álbum de originais, a nova-iorquina de 34 anos, que se deixou enamorar pelas praias da Califórnia, canta apocalipses pessoais e globais, sempre ensombrados pelo estertor do american dream. Aliás, o título do disco evoca o pintor e ilustrador Norman Rockwell (1894-1978) popularizado pelas suas representações de cenas idílicas da vida norte-americana. A interrupção do seu nome com a palavra “fucking” parece sinónimo de exasperação diante da decadência dessa América idealizada.
Em vez de escrever e cantar canções abertamente políticas, Lana preferiu transmitir a sensação de viver nuns EUA liderados pelo Presidente Donald Trump, sem abrir mão da sátira e da ironia. Nesse contexto, destaca-se uma toxicidade, no mínimo, psicologicamente violenta, que contamina homens e mulheres e, claro, as relações entre eles. “If he’s a serial killer then what’s the worst that could happen to a girl who’s already hurt?”, interroga-se em Happiness is a Butterfly, como se estivesse imunizada contra a possibilidade de voltar a ser magoada. Já em California, procura contrariar o medo da vulnerabilidade atribuído ao sexo masculino: “You don’t ever have to be stronger than you really are.” Nesta mesma canção, faz referência a um tema de John Lennon e Yoko Ono no verso “I’ve heard the war was over if you really choose”. Também os Beach Boys, Joni Mitchell, Neil Young, David Bowie (“Life on Mars ain’t just a song”) ou a poeta Sylvia Plath são invocados ao longo do disco. Afinal, todos eles partilham uma certa desilusão com o sonho americano. Mas Lana Del Rey não está refém de um epitáfio languidamente cinematográfico. No último tema do álbum, confessa que ainda tem esperança. Talvez os sonhos sejam eternos.
Veja o vídeo do tema “Fuck It I Love You & The Greatest”