Bill Callahan, o extraordinário músico que, durante anos, fez discos sob o nome Smog, anda há muito a editar álbuns que disputam sempre os lugares cimeiros dos melhores do ano. Com Shepherd in a Sheepskin Vest, o efeito será, certamente, o mesmo. Não que não haja aqui diferenças face a anteriores colossos seus, como Dream River, de 2013, ou o superlativo Sometimes I Wish we Were an Eagle, de 2009. E se a diferença não está na qualidade da música apresentada, está sobretudo na paisagem emocional por onde caminham estas 20 músicas, em que se vê um sol e um calor tranquilo, no lugar antes ocupado por escarpas perigosas e algum desespero emocional.
Neste novo disco, está lá a voz grande, elegante e lindíssima do costume, um timbre sempre inconfundível. As canções vêm de uma raiz quase folk de guitarra e voz, mas, ao contrário dos discos anteriores – que caminhavam numa via sonora de progressiva depuração –, aqui há mais instrumentos, ainda que sempre com muito bom gosto: guitarra slide e teclados subtis, deixando entrar a luz.
Nesta ausência, Callahan encontrou a mulher da sua vida, foi pai e deu consigo, pela primeira vez, realmente satisfeito com a sua existência doméstica. Para um homem conhecido pelo seu tom pessimista e de calmo desespero perante as questões da vida, esta não é uma alteração irrelevante. A verdade é que o norte-americano voltou à guitarra e soube, neste novo cenário, manter a extrema qualidade que o seu percurso teve até aqui. E, sim, as grandes questões da humanidade ainda são tema. Mas onde havia desespero perante as inevitabilidades da fraqueza humana, agora há aceitação desse destino e esperança em dias melhores.