A tomada da sede da PIDE, polícia política do Estado Novo, situada na Rua António Maria Cardoso, no Chiado lisboeta, não foi uma das ações prioritárias do movimento de capitães que, na madrugada de 24 para 25 de abril de 1974, levou a cabo o plano que derrubou o regime político em Portugal. Os inspetores da PIDE que se encontravam no edifício só se renderiam no dia 26 de manhã, já depois de, a 25, terem disparado rajadas de metralhadora contra a população que exigia a sua entrega. As cinco mortes que mancharam o 25 de Abril de 1974, considerado mesmo assim uma “revolução sem sangue” registaram-se aí. E é, precisamente, recordando esses acontecimentos que começa o novo livro do historiador António Araújo.
Coligindo o que os jornais e as rádios publicaram e emitiram na altura (e posteriormente), relendo testemunhos de anónimos e de personalidades conhecidas (Luiz Pacheco, Maria Filomena Mónica, Jorge Sampaio…), recolhendo pedaços de entrevistas de militares (Spínola, Salgueiro Maia, Otelo…), referindo o que fotografias mostram, o autor cria um texto quase cinematográfico, como se estivesse a captar várias tomadas de posição e pontos de vista sobre o mesmo acontecimento. Enquanto realiza esse travelling alargado (em que chega ao ponto de citar cenas de revistas em exibição no Parque Mayer), vai deixando no ar inquietações e dúvidas. E sublinhando contradições.
Morte à PIDE! acompanha os principais passos do desmantelamento da polícia política, desde abril de 1974 até aos julgamentos dos seus elementos (iniciados apenas em 1976), passando pela fuga de 88 agentes da prisão de Alcoentre e pelas condições em que estiveram presos.