
Leve e informal, “Conversa de Fila” é um álbum com uma profundidade escondida, que se revela a cada nota e a cada verso
Quando, há sete anos, chegou ao Porto, para estudar literatura, Luca Argel decerto não esperava que a sua vida desse tamanha volta. Uma semana depois de ter chegado à cidade, que hoje é também a sua, deu por si, com uns amigos, a tocar numa roda de samba na Praça dos Poveiros, onde nessa noite nascia o grupo Samba Sem Fronteiras, um dos grandes culpados da forte cena sambista portuense. A música não surgiu do nada na vida de Luca Argel, um antigo fã de rock que, antes de vir para Portugal, já havia gravado um disco… De eletrónica.
Foi por cá, todavia, que aliou as suas duas grandes paixões, a música e a escrita, com um primeiro disco em nome próprio, Bandeira, a colocá-lo de imediato no radar de quem gosta da simplicidade de uma boa canção. Uma simplicidade agora elevada ao expoente máximo, neste novo Conversa de Fila, um álbum aparentemente tão leve e informal como o nome indica, mas com uma profundidade escondida que se revela a cada nota e a cada verso.
Apenas acompanhadas pelo doce embalo do seu próprio violão (e, aqui e ali, pela percussão de Carlos César Mota em “caixa de fósforos, faca no pires e lata de achocolatado”), são no entanto as letras de temas como Conversa de Fila, Samba Invertido ou Para Não Dizer que Eu Sou Mal, no qual o Nescau da outra margem do Atlântico rima com o Ucal de cá, que tornam este disco tão especial. Quem, afinal, nunca ficou “dentro de casa, enquanto fazia um belo dia lá fora”, como recorda em Anos Doze, uma canção sobre uma juventude passada entre “cartucho de Super Nintendo”, episódios de Sailor Moon e “tantos dias sem dormir graças ao elixir de Red Bull com coca-cola” para jogar “a versão beta do novo Mortal Kombat”.