“No Meio do Nada”, de António Mota: Jogo de espelhos?
Lucília Monteiro
António Mota estreia-se na escrita para adultos com um livro de contos sobre afetos, solidão, velhice, memórias calibradas pela realidade. No Meio do Nada já está nas livrarias
Gerações cresceram com os seus livros infantis, clássicos desembaraçados com pensamento lateral e vocabulário vivo. A cumprir 40 anos de carreira, o autor estreia-se na narrativa para adultos: No Meio do Nada, reúne contos sobre afetos, solidão, velhice, memórias calibradas pela realidade.
Cada capítulo é um monólogo, uma melopeia. Mas há ironias e jogo de espelhos, como em Clementina: “Afinal não fez nada do que lhe pedi. É escritor, mas não tem capacidade para escrever a minha história, só escreve para crianças. Ora, ora, para crianças qualquer coisa serve, que elas coitadinhas são muito inocentes, e qualquer coisinha as distrai. Não é para o ofender, mas já ando há tantos anos a pedir-lhe para escrever um livro que conte a minha vida. Porque a minha vida dava um romance, mas daqueles que fazem chorar as pedras da calçada.”