Antes de 1999, quando o seu primeiro álbum de Vivaldi a tornou uma referência universal, mesmo entre os mais distraídos apreciadores de música clássica, Cecilia Bartoli já tinha uma notável carreira discográfica, com duas dezenas de álbuns de recitais e de óperas ao lado de nomes como András Schiff e Riccardo Chailly. Dois compositores luminosos, Mozart e Rossini, eram-lhe particularmente associados. O que o álbum de Vivaldi lhe acrescentou foi a fama planetária. A partir de 1999, ninguém que gostasse minimamente de música clássica podia desconhecer essa voz ágil que era tão inconfundível como, digamos, a de Maria Callas e que, tal como a de Callas, podia estender-se com naturalidade do seu registo de mezzo soprano até ao da soprano coloratura.
O álbum relançou a popularidade de Vivaldi como compositor de óperas e, desde então, Bartoli continuou a produzir álbuns de conceito, assentes em investigação musicológica que permite associar material conhecido a outro que nem o é tanto. Dedicados a um único compositor, tema, período ou local, com um livrinho incorporado e atraentes tanto a nível gráfico como musical, esses CD têm sido sempre um acontecimento. Quase 20 anos depois, Bartoli regressa a Vivaldi. Entre árias rápidas e lamentos, são dez peças que não constavam do primeiro álbum, cuja combinação de colorido e de nuances emocionais reaparece aqui em pleno. A voz mal acusa a passagem do tempo. Poderá ser mais do mesmo, mas ninguém se cansa do paraíso.