Abre-se a página em Poemas Inexperimentais e entra-se numa “douda correria” a pedir dicionários e imaginação: “Beladona pantomina/ besumbava monaginga./ Paixão laica, embirradona;/ na masmorra plamavina/ refragava em pura singa, / platibunda, rebolona./ Ticabonzo mamarracho /gingadava plo barbante,/ tranglomando o merimau; /ocarelas lasca e macho/ com mamoal salmonante, /tangavam o chocalhau [….]” Isto era José Sesinando em ação, pseudónimo do autor, tradutor, ensaísta e cofundador do Pen Clube Português, José Palla e Carmo (irmão do fotógrafo Victor Palla): um virtuoso e acrobático humorista dedicado a subverter língua e géneros literários, gerador de um pequeno culto dedicado à sua coluna, Escrituralismo, publicada no Jornal de Letras, Artes e Ideias desde o primeiro número, em 1981. Irrisão, manifestos, aforismos subvertidos, argúcia, leveza, erudição são evocados neste volume da coleção dedicada à literatura de humor coordenada por Ricardo Araújo Pereira. Com edição de Abel Barros Baptista e Luísa Costa Gomes, reúne três livros de José Sesinando (dois destes publicados apenas em edição de autor). Um ressuscitamento de um mestre do estilo paraprosdokian − articulação de frases em que a segunda surpreende o sentido esperado da primeira. “O paraprosdokian é mais elaborado do que o trocadilho vulgar e menos conhecido do que o invulgar”, refere Barros Baptista. O humor de Sesinando, acrescenta, é “linguisticamente endiabrado, como um miúdo travesso a virar as frases ao contrário para provocar a mãe ou desobedecer ao pai”. Mais vale cair em graça do que ser engraçado? José Sesinando acumulava.
“Obra Perfeitamente Incompleta”, as manobras de diversão de José Sesinando
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O oficiante do “escrituralismo”, cronista do “JL”, acrobata da brincadeira literária, é finalmente recuperado em livro
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