
O embrião deste Gringo foi fecundado nas favelas do Rio de Janeiro, onde Frankão desenvolveu um trabalho de inclusão pela música, idêntico ao que atualmente faz junto de uma comunidade cigana em Vila Nova de Famalicão. Há cerca de dez anos radicado em Portugal, há muito que este músico brasileiro, membro de bandas como HHY & The Macumbas e Samba Sem Fronteiras, mantém ativo o alter ego O Gringo Sou Eu, projeto nascido em 2012, quando ainda vivia em Lisboa. Nele, através de um rap de intervenção, vindo diretamente da rua, Frankão dá azo à sua veia mais contestatária, especialmente ao vivo, quando temas como o racismo, o sexismo e todo e qualquer tipo de exploração do homem pelo homem são chamados pelos nomes sem paninhos quentes.

Cada Vez Pior é um EP de sete temas onde Frankão, brasileiro radicado em Portugal, investe num discurso direto, herdeiro de várias formas da música de intervenção. A cantiga (ainda) é uma arma?
Gilberto Figueiredo
O primeiro disco (na verdade, era uma cassete), Música de Baixa Qualidade, editado em 2016, era o reflexo dessa sonoridade primária e direta, em que a mensagem era o mais importante. Dois anos depois, é caso para dizer que – apesar do título provocador: Cada Vez Pior – a qualidade da música melhorou bastante. A contestação continua lá, pura e dura, como se percebe na faixa de abertura, Morreu a Terra Comeu (“a procedência da tua herança não é revelada, o bisavô usufruiu de mão de obra escrava e você substituiu por mão de obra barata. Diz que não tem nada com isso, não viveu naquele tempo e hoje o que te vem não é pelo teu talento”), mas o embrulho musical é mais coeso, feito de uma mistura tão simples quanto eficaz de eletrónica, rap e baile funk. Para pôr as pessoas a pensar e a dançar, como acontece nos temas Nascocha, Sagga e Mija Sentado, o hino feminista de O Gringo Sou Eu, onde “machistas, tradicionalistas” são (a)visados.