Daniil Trifonov veio à Gulbenkian tocar o Concerto para Piano de Schumann, uma obra extremamente popular onde não será fácil ter coisas novas a acrescentar. O estilo dele impressiona, desde logo, por razões físicas. Trifonov mexe intensamente não só as mãos como o resto do corpo: salta no banco, agita a cabeça, curva-se muito sobre o teclado. O que sai de lá, evidentemente, é o que interessa, e fica a ideia de estarmos perante um pianista russo digno de se juntar aos melhores. Técnica fenomenal, musicalidade e riqueza de som alimentam um estilo altamente individual, com opções que escapam ao óbvio sem serem excêntricas. Por exemplo, quando Trifonov modera algo inesperadamente os tempos no meio de um andamento, acelerando apenas na parte final. Se quiséssemos resumir o efeito geral que ele nos causa, diríamos que é a sensação de vermos as peças mais de perto.
Recentemente voltaram a ser distribuidos, no pack Trifonov Live, dois CD gravados ao vivo em 2010 e 2013. Um deles é o recital no Carnegie Hall, onde Trifonov toca os Prelúdios de Chopin e a Sonata em Si de Liszt, duas obras que exigem, além da técnica, um grande sentido poético. Em setembro passado chegou Chopin Evocations, álbum duplo dedicado ao compositor polaco, onde uma extraordinária versão das variações sobre Là Ci Darem la Mano é acompanhada pelos dois concertos para piano (em orquestrações discutíveis de Mikhail Pletnev), por outras peças de Chopin e por peças de outros compositores em torno dele. Destaque para as raramente ouvidas Variações sobre um Tema de Chopin, do catalão Frederic Mompou.