João Arruda foi morto pela PIDE no dia 25 de abril de 1974. O industrial Joaquim Ferreira Torres foi assassinado em agosto de 1979, num ajuste de contas relacionado com a rede bombista de extrema-direita que atuou em Portugal.
É neste arco temporal que Miguel Carvalho, grande repórter da VISÃO, desenvolve uma extensa investigação sobre o que foram os anos de violência política, as suas vítimas, os seus operacionais e mandantes, desfazendo ideias feitas que a “memória consensual” toma como certas. Uma delas: se o Verão Quente é considerado o período mais conturbado porque é que se registaram tantos atentados depois do 25 de novembro de 1975?
O jornalista – cuja reportagem sobre a morte de Joaquim Ferreira Torres, publicada na VISÃO, lhe valeu em 2009 o mais importante prémio jornalístico atribuído em Portugal, o Prémio Gazeta – mergulhou em arquivos e entrevistou dezenas de pessoas para explicar o intrincado puzzle da forma de atuação de movimentos de extrema-direita como o ELP, o MDLP e a rede bombista, e as suas ligações a figuras dos meios político, empresarial e militar. Não ficam de fora as responsabilidades da Igreja na criação de um clima de medo nem a atuação da CIA. Quando Portugal Ardeu faz luz sobre os assassinatos de Rosinda Teixeira (mulher de um operário têxtil de S. Martinho do Campo), do padre Max e de dois diplomatas da Embaixada de Cuba em Portugal (atacada à bomba), todos ocorridos em 1976. Às revelações de documentos inéditos juntam-se as de entrevistas a figuras dos dois lados da barricada, como o magistrado Guimarães Dias e o militar Ferreira da Silva, ambos da diretoria da PJ no Porto, encarregada de investigar a rede bombista, ou Silva Santos, ligado ao MDLP, em casa de quem foi armadilhado o carro que explodiu em frente da sede do PCP da Avenida da Liberdade, em Lisboa. Esta é uma investigação jornalística e não histórica, faz questão de sublinhar o autor. Mas a verdade é que dificilmente os historiadores poderão passar ao lado deste livro. Ele faz História.
Quando Portugal Ardeu (Oficina do Livro, 556 págs., €18,80), de Miguel Carvalho, é um longo e aturado livro de investigação jornalística que tem como ponto de partida um dos mais conturbados períodos da nossa história recente, o Verão Quente de 1975