Os mais cínicos podem acusá-los de estarem apenas a cavalgar a espuma dos dias para um regresso musical sem novidade mas de grande impacto mediático. É a sina das grandes bandas e um sinal destes tempos vertiginosos, contados à velocidade de cliques e “likes” que já não nos deixam criar clássicos. Quem se lembra, assim de repente, de uma canção dos últimos discos dos U2, Rolling Stones, Metallica ou dos próprios Depeche Mode? Não deixa de ser irónico que nos tempos da corrida desenfreada em direção ao futuro, apenas desejemos o passado dos deuses da pop e do rock. E é precisamente isso que Spirit, o novo trabalho dos Depeche Mode tenta contrariar, com a banda a descer desse luxuoso Olimpo dos êxitos passados para ingressar na muito mais lamacenta trincheira da música de intervenção.
Pela primeira vez em mais de 30 anos de carreira, a banda britânica deixa para trás as suas temáticas habituais de sexo, religião e (des)amores vários, para se focar no essencial – ou pelo menos naquilo que agora é essencial. Basta ouvir o tema que abre o disco, Going Backwards, para perceber o quanto o foco mudou: “We’re going backwards, armed with new technology, going backwards to a caveman mentality”. Frases como esta, de uma clara posição política, estão presentes em todas as canções do álbum e são a melhor resposta a Richard Spencer, um dos líderes da extrema-direita americana que recentemente elegeu os Depeche Mode como a “banda oficial da alt-right”. Dave Gahan, vocalista da banda, não esteve com meias palavras e chamou-lhe “cretino” (uma tradução suave para a palavra “cunt”). “Who’s making your decisions? You or your religion, your government, your countries, your patriotic junkies”, interroga um militante Gahan em Where’s the Revolution, uma canção com tudo para poder perdurar, como um clássico dos bons velhos tempos.
Veja o vídeo de Where’s the Revolution