
Não é disco para entrar à primeira. E já sabemos que, muitas vezes, são esses os melhores. Mergulho em Loba foi feito com tempo, gravado entre 2013 e 2015. E isso nota-se, sobretudo, nas soluções musicais encontradas para embrulhar as palavras. Joana deve ser apresentada, antes de mais, como escritora de canções. Canções que serpenteiam, fogem à omnipresença do refrão ou da rima, e procuram sempre uma identidade e autenticidade só delas.
É possível encaixar as canções de Joana Barra Vaz na velha linhagem da música popular portuguesa se olharmos, lá atrás, para o lado mais criativo e experimental de José Afonso. Há coros, subtis paisagens sonoras (soundscapes), caixinhas de música, delicadas kalimbas, um violoncelo, sopros (trombone e trompa) que não querem passar despercebidos… E uma guitarra, aparentemente simples, que nos guia por estas canções habitadas pelo mar, o sal, o sol, um lugar a que queremos chamar casa. Mergulho em Loba merece (e precisa de) vários mergulhos. É um raro, precioso e promissor álbum de estreia de uma nova escritora de canções portuguesas.
Ouça aqui a música A Demora