Este é um disco de afirmação. Que vai transformar Angel Olsen e, de caminho, o seu público. Começará, aliás, por apresentá-la a muito mais ouvintes. Ela já foi um desses segredos pouco conhecidos que alguns descobriam com prazer, artesã de melancólicas canções folk em registo lo-fi. Com o álbum Burn Your Fire For No Witness, de 2014, chegou mais longe, mas sem renunciar a esse imaginário folk muito norte- -americano, herdeiro de algum desespero dos blues e do country menos festivo. Mas, apesar dos intemporais sentimentos de amor e desamor, ilusões e desilusões, não havia dúvidas de que era um disco deste século XXI e, aqui e ali, pressentiam-se os 27 anos da sua autora.
Agora (é só fazer as contas…) ela está a poucos meses de completar 30 anos e, a partir de alicerces sólidos, dispara em várias direções. A matriz folk, de escritora de canções, está lá mas as roupagens são diversas. Aqui há rock com todas as letras, há pop, há uma energia que não se lhe conhecia. E surpreendemo-nos, logo às primeiras palavras do primeiro tema, Intern, a pensarmos na voz grave de Lana Del Rey como referência. Num disco musicalmente rico, variado, bem trabalhado, são muitos os nomes em que pensamos nesse processo automático, tão humano, que nos leva a procurar identificar o novo com o que já conhecemos. E damos por nós a ouvir ecos de P.J. Harvey, St. Vincent, Courtney Barnett ou Anna Calvi… Mas também Beth Gibbons (Portishead), que não desdenharia emprestar a sua voz ao melancólico tema final (Pops) ou Julee Cruise. A viagem é também de referências no tempo, mostrando que Angel Olsen conhece bem o(s) chão(s) que pisa. Never Be Mine, um dos temas mais bem conseguidos do disco, tem um delicioso perfume a anos 60. Logo a seguir, Shut Up Kiss Me é rock, inesperado, contemporâneo, elétrico, como nunca se tinha ouvido nos discos anteriores; Give It Up parece o arranque de uma canção dos Nirvana (unplugged…).
Vai haver um antes e um depois de My Woman no percurso musical de Angel Olsen. Um raro álbum em que as canções se equivalem, nenhuma está a mais, e todas parecem resultar de um genuíno entusiasmo da sua autora em mostrar ao mundo o que sabe fazer – ou o que não pode deixar de fazer. É muito.
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