Quando José Maria e Elvira Direito decidiram construir esta moradia de férias, em 1953, a 900 metros de altitude, numa estrada florestal entre a vila de Manteigas e as Penhas Douradas, o isolamento era total. A vista, no enfiamento do “U” perfeito formado pelo Vale Glaciar do Zêzere, pode ser apreciada em vários pontos da Casa Cerro da Correia, mas, a partir de um óculo, a meio das escadas interiores, surge como o vislumbre de um tesouro, que não se pode guardar até se atingir a varanda. Não por acaso, a hashtag #A nossa vista é real ganhou força nas páginas das redes sociais do alojamento local.
“O meu avô era um homem de negócios, não construía nada que não tivesse rendimento”, conta Inês Cunha Direito, a quem coube, juntamente com Miguel Martins, a recuperação da casa de família. Procuraram manter o que ainda restava da estrutura original, com a tinta sangue de boi das portadas e janelas de madeira a dar agora vida aos remates das divisões. Aos poucos, trouxeram e recuperaram os móveis antigos, das décadas de 40/50, que pertenceram à residência, distribuídos por tios e primos. No piso superior, há quatro quartos (Migalho, Bardo, Cabeço e Rebusco, cada nome convocando vivências), todos diferentes, com uma salamandra no corredor a reforçar o aquecimento. No piso inferior, concentram-se as áreas comuns: a sala de jantar, a cozinha equipada e a sala de estar com lareira, onde há livros e jogos de mesa, além de lápis, aguarelas, blocos de folhas e cadernos, para que os hóspedes se deixem inspirar pela envolvente e registem os dias passados na serra. É um lugar de memórias, “para desfrutar e não só para pernoitar”, diz Miguel.
Em harmonia com a natureza, seguem uma série de práticas ecológicas, desde a vermicompostagem ao rebusco de cogumelos, castanhas e ervas encontrados na floresta. No exterior, no jardim formado por espécies do parque natural, existe ainda um pátio para refeições ao ar livre, um jovem pomar e uma horta com produtos autóctones, preparando-se sempre um cabaz a pensar em quem chega, além de conservas e compotas confecionadas por Inês. Caso seja pedido, os anfitriões preparam um pequeno-almoço reforçado, com os bolos de leite e os “esquecidos” típicos da região. Também podem ser encomendadas refeições, preparadas com ingredientes de produtores locais, como o mel de Manuel Monsanto, os queijos de ovelha e de cabra de Etelvina Reis e de Augusto Ribeiro ou os cabritos de António Direito. “São pessoas com quem fomos criando relações de confiança e que têm produtos realmente bons”, sublinha Inês.
A casa, no fundo, é o início de um projeto que se quer mais vasto, implicando um mergulho na comunidade. “Há mais para além da contemplação e do puro bem-estar, queremos avançar com passeios temáticos onde contamos as histórias de quem vive na floresta e na montanha, destes lugares, dos animais e das plantas.” Testemunhos e conhecimentos recolhidos pacientemente por Inês (alguns deles reunidos no site https://migalho.com/), prontos para uma versão ao vivo e a cores. Migalho a migalho (o nome dado na vila de Manteigas a um fragmento de tempo, uma porção de espaço, um pedaço de algo), fazem o retrato desta comunidade.
Casa Cerro da Correia > Cerro da Correia, Manteigas > T. 96 678 7834 > casa de €120 a €150