Foi o aroma das plantas que levou François Goris a pensar no que podia fazer com elas. Na Herdade Vale Côvo, em Corte Sines, concelho de Mértola, produz óleos essenciais biológicos desde 2005. “Na altura, era considerado um maluco a cultivar plantas aromáticas nestas terras feitas de mato, para muitos sem nenhum proveito”, conta François, que se mudou, em 1992, da Bélgica para o Alentejo. “Desenvolvi um projeto sustentável, com base no que é autóctone.” François fala da flora espontânea feita de estevas, alecrim, eucalipto, entre outras espécies, a partir das quais extrai os 15 óleos essenciais que tem à venda no site da herdade e em várias lojas de produtos biológicos. “Valoriza-se a terra e aproveita-se as propriedades terapêuticas das plantas, que são muitas, anti-inflamatórias, adstringentes, analgésicas”, sublinha.
Integrada no Parque Natural do Vale do Guadiana, a propriedade tem 180 hectares, 15 dos quais são de plantação de ervas aromáticas. “Não há quantidades suficientes para destilar, com uma tonelada de esteva obtém-se um litro de óleo. Recuperamos o material genético da planta, a semente ou a estaca, reproduzimos em estufas e replantamos no sítio de origem, fazendo o repovoamento da flora autóctone”, explica.
Tudo é ceifado à mão na época certa, de forma a manter o aroma e os princípios ativos, e a obter um produto de qualidade que possa ser usado na pele, inalado ou ingerido. Os óleos são extraídos através de destilação por arraste de vapor, num alambique de aço inox, num processo de produção o mais artesanal possível, e utilizados também em águas-de-colónia, sabonetes e óleos corporais.
Em Alcoutim, no Algarve, também a Pharmaplant procura a qualidade e o potencial das espécies autóctones. Nesta pequena fábrica/laboratório, a funcionar desde 2013, os óleos essenciais biológicos e certificados “são produzidos a partir de plantas aromáticas provenientes, essencialmente, de parcerias com produtores e associações locais, mas também de regiões adjacentes”, explica o responsável, Jorge Fabian Crespi. No top de vendas da Pharmaplant, entre cerca de dezena e meia de referências, está neste momento o óleo de lavanda (“as pessoas não conseguem dormir e associam a planta à melhoria e à qualidade do sono”), e o de eucalipto, “para aumentar a concentração”, justifica.
Massagens revigorantes
A Organii, a primeira empresa de cosmética biológica certificada em Portugal, tem nos óleos essenciais um dos seus pilares. “São muito concentrados e ricos em moléculas terapêuticas, resolvem uma série de problemas. A acne trata-se de forma muito eficaz com óleo da árvore do chá, e a expetoração com uma combinação de óleos de eucalipto e pinho. A medicina sempre esteve sempre ligada à botânica, o bem-estar estava relacionado com o que existia na Natureza”, refere Cátia Curica, uma das fundadoras da marca.
Nas lojas Organii, em Lisboa e no Porto, encontra-se uma série de óleos essenciais bio, em pequenos frascos de 10 ml, que devem ser guardados em local fresco e seco. Duram entre seis meses e um ano, consoante a utilização, à gota, “devido à concentração e à intensidade”, esclarece. Para tirar melhor partido dos seus benefícios, é preciso saber usá-los, alertando: “Podem provocar alergia, como tal, devem ser testados previamente na pele.”
A marca privilegia as produções nacionais, da alfazema ao alecrim, provenientes de Trás-os-Montes ao Algarve; outras variedades, como o gengibre e o ylang ylang, vêm de fora. Utilizados também como matéria-prima na Unii, a marca própria da Organii, são combinados entre si potenciando qualidades e integrados em exfoliantes corporais, sabonetes e outros produtos de cosmética natural.
Entre as utilizações mais comuns destes óleos estão a inalação de vapores; se tiverem certificado alimentar, como os da Unii, podem ser usados em granolas e bolos, mas também em difusores, que permitem a dispersão do aroma, ou, de uma forma mais tradicional, colocando umas gotas na fronha da almofada. No entanto, “é diretamente no corpo, em massagens, que mais se sentem os efeitos”, diz Cátia. A massagem de escalpe com uma mistura de óleo de argão (duas colheres de sopa) e óleo essencial de alecrim (uma gota) – para usar na pele é preciso um óleo vegetal que sirva de veículo – é um dos seus rituais favoritos. “Faço-o à noite, na véspera de lavar o cabelo. Deixa-o muito brilhante, forte e cresce mais depressa”, garante.
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Bê-á-bá dos óleos essenciais
O que são
Trata-se de extratos concentrados obtidos de folhas, flores e raízes de plantas, através do processo de destilação, geralmente por arraste de vapor
Propriedades
São várias e dependem das características da planta. O óleo essencial de alecrim é antissético e antifúngico, o de gerânio é adstringente e tonificante, o de limão é antibacteriano e o de esteva é anti-inflamatório
Benefícios
Devido às suas propriedades terapêuticas, os óleos essenciais são benéficos para a saúde e também promovem o bem-estar emocional, ajudando a melhorar o humor, por exemplo
Aplicações
Entre os usos mais comuns estão massagens (misturados com um óleo vegetal, de coco ou abacate, por exemplo), inalações, compressas, gargarejos ou bochechos, cosmética, culinária, e em difusores e purificadores de ar