Os vinhos que apresentamos esta semana caracterizam-se por serem produzidos com uvas de vinhas velhas. Foi mera coincidência terem aparecido esses vinhos na mesma ronda de provas, levando-nos a pensar no conceito de vinhas velhas, que é tão simples como equívoco. Muitos consumidores julgam que a menção vinhas velhas tem um sentido óbvio e preciso a indicar qualidade, mas não. Se perguntarmos que garantias é que tal designativo lhes dá, ficam calados.
Não há definição legal do conceito de vinhas velhas nem preceito que o regulamente. O tema tem sido discutido entre os viticultores, as associações que os representam e as entidades ditas competentes, mas sem consequências. Existem vinhas velhas em grande número e em todas as regiões do País, constituindo um património valiosíssimo que não tem sido devidamente preservado e valorizado. O que são, afinal, vinhas velhas? E o que as distingue? Em certas regiões, qualquer vinha com duas ou três escassas dezenas de anos já é considerada “vinha velha”; noutras, como o Douro, onde é mais consistente a busca pela qualidade, exige-se muito mais.
Foi na década de 80 que Luís Pato, conhecido produtor bairradino, teve a feliz ideia de associar o designativo vinhas velhas a um vinho de qualidade, e o seu exemplo foi seguido por outros, generalizando-se o uso desta menção, sem critério nem rigor. Vai para um ano, o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto criou a menção “vinhas velhas” para os vinhos da Região (DOP Porto, DOP Douro e IGP Duriense) com judiciosos considerandos e duas regras básicas: serem de vinhas com o mínimo de 40 anos e os vinhos terem qualidade muito boa. O critério foi logo alvo de críticas por falta de ambição no que respeita à garantia de qualidade dos vinhos, mas nem assim tem sido cumprido. No resto do País, o critério não existe sequer.
Assim, obedecendo a ditames de natureza mais comercial do que técnica, a importância da menção vinhas velhas depende da credibilidade do produtor do vinho. No caso dos vinhos que apresentamos, a cotação dos produtores é alta, e a menção vinhas velhas corresponde a um sinal distintivo de vinhos de qualidade superior.
Singular Vinho Verde Baião Branco 2019
Este vinho resulta de uma seleção de uvas de vinhas velhas e de várias castas – Avesso, Arinto, Malvasia-Fina, Alvarinho e Rabigato – que o enólogo Fernando Moura faz na Quinta de Santa Teresa, Baião, para delas retirar o seu melhor. Fermentado em inox e em barrica (20%), apresenta aspeto brilhante, cor citrina, aroma intenso com boas notas frutadas e florais, paladar elegante, vivo, estruturado, com grande frescura e longo final. €10
Marquês de Borba Vinhas Velhas Alentejo Branco 2020
Lote das castas Arinto, Roupeiro, Antão-Vaz e Alvarinho. Estagiou durante oito meses em barricas de carvalho. Tem aspeto cristalino, cor amarelo-citrina acentuada, aroma a frutos cítricos amaciados pela leve tosta de barrica, paladar com bom volume, com acidez excelente e bem temperada pela madeira, e com sabor expressivo, a que não falta um toque mineral. €14,95
Bela Luz Vinhas Velhas Douro Tinto 2019
Produzido com uvas de um lote de castas de vinhas velhas, estagiou por 16 meses em barricas de 500 litros de carvalho-francês e em talhas de barro de 140 litros. Apresenta profunda cor rubi, aroma complexo a frutos pretos com delicado toque floral e notas balsâmicas e mentoladas, paladar cheio de elegância, sabor, frescura e equilíbrio. Sedutor, em suma. €24,90