Chegou o tempo da sardinha, que é elemento basilar da alimentação dos portugueses, acompanhada pelo seu inseparável parceiro: o vinho. Assada na brasa, a sardinha tanto pode ser posta em cima de uma fatia de pão e apresentada como petisco tradicional, como ser servida no prato com o séquito da praxe – batata cozida e salada, que deverá incluir pimento – e compor uma refeição excitante para o olfato (até demais, dizem alguns) e para o paladar (nunca é demais, garantimos todos). É certo que também pode ser confecionada de outras maneiras – grelhada, frita, em caldeiradas, em molhatas e, até, em elaborações sofisticadas, nos restaurantes de alta-cozinha, onde lhe domam a fogosidade aromática e realçam a textura firme e o sabor generoso da carne –, mas ainda nada suplantou a popularidade da sardinha (ou fraldiqueira, como lhe chamavam no calão lisboeta de há um século) assada na brasa. Com o vinho a fazer-lhe companhia, evidentemente.
Que vinho? Branco ou tinto? Tanto faz, desde que haja o cuidado de pensar nos 10% de gordura que a sardinha tem – e de onde lhe vem, aliás, quer a força aromática, quer a intensidade de sabor – e de escolher vinhos com riqueza aromática equivalente, acidez bastante para limpar o palato, fruta, álcool, taninos macios… enfim, estrutura ao nível da comida, para que se complementem, sem se ofuscarem ou sobreporem um ao outro.
Damos três exemplos de vinhos que cumprem bem essa função: Quinta de Chocapalha Viosinho 2019, última novidade da produtora de Alenquer, que mostra como uma casta branca originária do Douro se adaptou bem às terras do oeste e nos dá este vinho muito aromático e equilibrado, com boa acidez, melhor sabor, mineralidade e salinidade que definitivamente o aproximam da sardinha; Severa Reserva Regional Tinto 2017, um vinho produzido na região de Lisboa que ostenta o nome da “figura mais mitológica do universo fadista” e que justifica esta ligação, bem como à sardinha, com a intensidade da cor, do aroma e do paladar; Zafirah Vinho Verde Tinto 2020, que vem na linha dos antigos tintos da região de Monção, aberto na cor, perfumado no aroma, leve, fresco e assertivo no paladar, com acidez viva e ao mesmo tempo contida; enfim, um vinho artesanal que converte a rusticidade em elegância.
Quinta de Chocapalha Viosinho Lisboa Branco 2019
Exclusivamente de uvas da casta Viosinho, fermentado em inox e estagiado durante quatro meses em barricas usadas, com bâtonnage. Apresenta cor amarela-citrina cheia de brilho, aroma muito fino com notas cítricas, tropicais e florais, paladar elegante e fresco com mineralidade e salinidade que o avivam e distinguem. €9,50
Severa Reserva Regional Lisboa Tinto 2017
Resulta de uvas das castas Touriga-Nacional e Syrah com fermentação tradicional de curtimenta. A cor é vermelha viva, o aroma intenso a frutos vermelhos maduros com notas florais, o paladar encorpado com boa acidez e taninos macios, num conjunto equilibrado. Gastronómico, com especial aptidão para os grelhados. €5,99
Zafirah Vinho Verde Tinto 2020
Vinho de lote com predomínio da casta Alvarelhão e contributos de Borraçal, Pedral, Espadeiro e algum Vinhão, artesanal, vinificado com intervenções enológicas mínimas e cirúrgicas que lhe preservam o caráter. Tem cor rubi aberta, aroma fino a frutos vermelhos com notas florais e um ligeiro toque herbáceo, paladar elegante e muito fresco, boa estrutura e com acidez vibrante, mas pura e sugestiva. Muito gastronómico e versátil. €12