Em tempo de primavera, poderia ser interessante, além de oportuno, falar de vinhos e dos seus aromas, que, muitas vezes, lembram flores, mas a memória de flores, nestes dias, recai inevitavelmente na despedida de duas personalidades de grande relevo no setor dos vinhos e da região da Bairrada: Sidónio de Sousa, em meados de abril, e Graça Miranda, no começo de maio.
A vinha e o vinho foram paixões que marcaram a vida, felizmente longa, intensa e profícua de Sidónio de Sousa: ainda plantou vinhas, nos seus últimos anos, para deixar aos vindouros os melhores frutos; construiu uma das mais prestigiadas marcas da região; fez parte do grupo dos grandes Baga Clássicos (vinificação em lagar com engaço e sem madeira nova) e foi autor de alguns dos melhores vinhos da Bairrada. Do grupo restrito dos Baga Clássicos, também fazia parte Graça Miranda, da Casa de Saima, senhora com uma dimensão humana e uma devoção à terra e à vinha. Também ela manteve o estilo clássico dos seus vinhos, elaborados da forma mais natural possível, como gostava de dizer, autênticos, com a região dentro de si.
Feita esta singela, mas inevitável evocação, resta afirmar que tanto Sidónio de Sousa como a Casa de Saima têm vinhos notáveis no mercado, em especial os Garrafeira, que se recomendam. E é altura de falar de outros, com características diferentes e também dignos de apreço.
Vale dos Ares é uma empresa jovem, na sub-região de Monção e Melgaço, que aposta na pequena produção de vinhos personalizados e distintos. A parcela “vinha da coutada”, em solo granítico, tem mais de 30 anos e dá este monovarietal Alvarinho de excecional qualidade. A nova colheita do Rocim Rosé baseia-se na casta Touriga-Nacional, como as anteriores, e tem aquela delicadeza na cor, no aroma e no sabor que já lhes marca o perfil e garante lugar certo em momentos de convívio, sobretudo à mesa. Redondo é o primeiro vinho a que a Casa Relvas dá o próprio nome e o primeiro também a ostentar a menção DOC (Denominação de Origem Controlada). Um tinto alentejano das terras do Redondo, tão acessível como fácil de beber.
Vale dos Ares Vinha da Coutada Monção e Melgaço Branco 2018
Exclusivamente de uvas da casta Alvarinho, com maceração pelicular, fermentação em barricas usadas de carvalho-francês, seguida de estágio nas mesmas durante um ano, com borras totais, e novo estágio de 15 meses em garrafa. Tem cor amarelo-citrina, aroma intenso, sugestões de frutos cítricos, de frutos secos e de mineralidade; paladar volumoso, mas elegante e distinto, com frescura e sabor marcantes. €29,99
Herdade do Rocim Regional Alentejano Rosé 2020
Só de uvas da casta tinta Touriga-Nacional, com vinificação em bica aberta e estágio de três meses em garrafa. Apresenta cor bonita e suave, de tom salmonado, aroma muito expressivo a fruta fresca, com notas florais e um toque mineral, paladar atrativo com a fruta, a mineralidade e a frescura a dar intensidade e a conferir elegância. €8,15
Redondo Casa Relvas DOC Alentejo Tinto 2019
Lote das castas Aragonez, Trincadeira, Castelão e outras. Fermentação em inox, com maceração de 30 dias, malolática, em tonel de carvalho-francês, seguida de estágio de 12 meses. Tem uma profunda cor rubi, aroma intenso a frutos vermelhos, com notas herbáceas e balsâmicas, paladar encorpado com taninos suaves, acidez equilibrada, boa harmonia. Pede pratos fortes. €8,99