Voltamos à ideia de aproveitar este tempo ingrato que mantém as nossas vidas e os nossos bens sob ameaça para quebrar rotinas e alargar conhecimentos, por exemplo, com a prova de novos vinhos. Nesta matéria tendemos a ser muito conservadores e a refugiar-nos em regiões e marcas de que gostamos e nas quais depositamos confiança, esquecendo que há mais mundo e que este, o dos vinhos, também se move. Há castas diferentes das que conhecemos, há vinhos com características únicas, há inovação na viticultura e na enologia que faz com que apareçam vinhos diferentes e, não raro, melhores, coisa a que os consumidores não podem ficar alheios, muito menos os enófilos.
Temos em Portugal – sorte nossa – uma singular variedade de castas que se deve, por paradoxal que pareça, ao proverbial atraso tecnológico e à falta da reconversão das vinhas e da seleção das castas que ocorreu, no século XIX, em países mais desenvolvidos, como França e Alemanha, por exemplo. Porém, a fama dos nossos vinhos deve-se mais às regiões onde são produzidos do que às castas, em resultado da tradição mediterrânica dos vinhos de lote, que é milenar. São os meus favoritos, mesmo tendo de me render às virtudes de um varietal de Alvarinho ou de Touriga-Nacional, para falar só de castas portuguesas.
Vem isto a propósito de três vinhos que recomendamos: o Legado Douro Tinto 2015, vinho de lote com várias castas misturadas de vinhas centenárias da Quinta do Caêdo, um dos ícones da Sogrape Vinhos, sonhado por Fernando Guedes para homenagear o pai, fundador da empresa, assinalar a passagem de testemunho aos filhos, atuais gestores, e prestar tributo ao Douro; e os varietais Quinta do Gradil Alvarinho 2018 e Quinta do Gradil Viosinho 2018, ambos de grandes castas brancas portuguesas, a primeira com o seu território de eleição em Monção/Melgaço, a segunda no Douro, mas igualmente fecundas na região de Lisboa, como se (com)prova.
Quinta do Gradil Alvarinho Regional Lisboa Branco 2018
Cem por cento Alvarinho, o primeiro concebido na Quinta do Gradil, em Terras do Cadaval (Regional Lisboa), com a casta mais aplaudida da Região dos Vinhos Verdes, assinalando também a estreia do enólogo Tiago Correia. Tem aspeto brilhante, cor citrina, aroma limpo e frutado com notas cítricas e tropicais, paladar muito fresco e bem estruturado com mineralidade e persistência acentuadas. €10,50
Quinta do Gradil Viosinho Regional Lisboa Branco 2018
Só Viosinho. Já não é novidade na Quinta do Gradil, mas subiu de nível. Apresenta-se com bela cor citrina, aroma intenso a frutos verdes e de caroço com algum tropical, paladar cheio, bem estruturado e muito fresco, sobressaindo a harmonia entre acidez crocante, álcool e fruta. Para a mesa, em qualquer dia do ano. €10,50
Legado Douro Tinto 2015
Vai na oitava edição este vinho sonhado por Fernando Guedes para ser a “expressão máxima de terroir” do Douro. O Legado 2015 pertence, sem dúvida, à galeria dos eleitos: cor rubi profunda, aroma muito intenso e complexo a frutos vermelhos frescos com notas balsâmicas e de especiarias, paladar rico e volumoso com taninos tão finos como vigorosos, acidez viva, excelente fruta e final longo, elegante, harmonioso, pleno de sedução. €250