No Restaurante Fidalgo, no Bairro Alto, em Lisboa, foi dia de reabrir as portas, após dois meses de encerramento forçado. Com duas reservas confirmadas para a hora de almoço desta segunda, 18 (dia que marca a abertura oficial dos restaurantes), foi também ocasião para os amigos/clientes reverem Eugénio Fidalgo, proprietário do restaurante aberto em 1971 pelo seu pai, na Rua da Barroca. A estes dois amigos de longa data, juntaram-se mais três clientes que cumprimentaram Eugénio com entusiasmo, escolhendo a esplanada (com apenas quatro mesas, em vez de seis), para desfrutar de uma refeição num restaurante, ainda que com regras apertadas, aqui cumpridas (lavar as mãos, máscaras, mesas afastadas…).
“Hoje, a primeira coisa que fiz assim que cheguei ao atelier, no Chiado, foi ver se o Fidalgo estava aberto”, conta António Teixeira, cliente há cerca de quarenta anos. “Não venho cá todos os dias, se não engordava, mas estou cá muitas vezes”, diz, enquanto se atira aos filetes de peixe-galo com arroz de tomate e salada, um dos pratos do dia deste restaurante especializado em comida portuguesa. “Tenho até direito a uma mesa fixa”, acrescenta António, visivelmente satisfeito com a reabertura deste clássico lisboeta com quase 50 anos.
Para lá dos filetes, o senhor Eugénio, 61 anos, sugere também o arroz de polvo com feijão maladrinho, no ponto de cozedura perfeito, como pudémos comprovar, a pedir um copo de vinho (há cerca de 300 referências) ou uma cerveja fresca, que combina bem com o dia de sol e temperatura altas. Nas especialidades, destacam-se ainda a caçarola de garoupa com camarão, o arroz de favas com entrecosto, o bife de vaca com queijo da serra da Estrela e as pataniscas de bacalhau. Tudo servido em doses generosas.
Quando se entra no Fidalgo, veem-se agora as mesas despidas de qualquer adorno. Só quando os clientes se sentam (depois de lhes sugerirem lavar as mãos com o gel que se encontra em cima do balcão), são colocados os toalhetes de papel, bem como a ementa digital. É o senhor Eugénio que nos explica como funciona: “Basta que aproxime a câmara do telemóvel para ler o código QR e, em seguida, vê o menu no ecrã”. Um método que dispensa qualquer aplicação especial. Caso o telemóvel não seja compatível, basta consultar a ementa no site do restaurante ou pedir ajuda a um dos empregados. “Não precisei de despedir ninguém e até agora consegui pagar as minhas contas todas”, sublinha o proprietário.
Enquanto aviam os pedidos dos sete clientes (jornalista e fotógrafa deste trabalho incluídas), há tempo para Eugénio Fidalgo recordar histórias que deixam boas recordações: “Ainda me lembro quando cá vinha o poeta e pintor Al Berto, era frequente cá ficar até às duas ou três da madrugada, a contar histórias. Eram boas tertúlias”. “Nesse tempo”, continua, “as pessoas eram mais saudáveis, não havia telemóveis, comunicava-se mais”. Também os artistas Pedro Cabrita Reis e Julião Sarmento passaram pelo Fidalgo, entre tantos outros nomes que fazem parte das memórias deste restaurante.
Mais recentemente, nos dois último meses, “foi estranho ver o bairro tão vazio e em silêncio, senti a falta das pessoas”, refere o senhor Eugénio, morador no Bairro Alto. “Nunca as pessoas cozinharam tanto em casa, e nós cozinhamos tão pouco”, atira. Em contagem decrescente para o jantar, quer ver como este vai correr. “Até agora tenho duas reservas para quatro pessoas. O jantar era o forte da casa, mas garantidamente que vamos ter menos clientes. Os turistas foram embora e nos próximos meses não vão voltar”. “O melhor”, acredita Eugénio Fidalgo, “é levar isto sem stress, se não ficamos malucos. O resto só o tempo o dirá. Mas hoje já se vê mais gente por estes lados.”
Já na rua, paramos para pensar no que foi esta primeira refeição, depois de dois meses com os restaurante encerrados. E concluimos que as máscaras e o devido afastamento social são compensados pela simpatia desta equipa composta por sete colaboradores atentos, e da família do senhor Eugénio – o filho, Tiago, a nora, Mara Costa, e três netos –, que tivemos a sorte de conhecer. Uma casa familiar, portanto, aonde podemos finalmente voltar.
Restaurante Fidalgo > R. da Barroca, 27, Lisboa > T. 21 3422900 > seg-sáb 12-15h, 19h-23h