A pandemia atinge-nos a todos, se não na saúde pelo menos na liberdade, nos movimentos, nos interesses, no ânimo. Um dado que veio a público, em jeito de alerta, foi o do aumento do consumo do álcool, mais concretamente do vinho, desde o confinamento imposto pela Covid-19. É quase irónico que isto suceda numa altura em que o comércio de vinho está parado, com a via das exportações e o canal Horeca (hotéis e restaurantes de portas fechadas, estando por saber quando e se irão reabrir) praticamente inoperacionais. Vivem-se tempos de angústia.
O aumento do consumo de vinho nestas circunstâncias está longe de corresponder ao interesse dos produtores, contrariando, até, o apelo para se “beber com moderação” inscrito nos rótulos das garrafas. Porque os vinhos são feitos a pensar nos apreciadores, naqueles que os não dispensam, que os avaliam e os comparam, que procuram escolher os melhores, que tentam aperceber-se da fruta, da estrutura, da intensidade, da textura, da adstringência, da frescura do vinho. Os apreciadores não bebem demais nem ocasionalmente, servem-se do vinho no momento apropriado, preferencialmente acompanhados, à conversa ou à mesa. A sua busca de prazer mantém-nos atentos à qualidade do vinho.
Um vinho bom não é necessariamente caro. Muitas vezes, o que determina o preço elevado é a marca ou a exclusividade do vinho; não a sua qualidade. Há vinhos no mercado muito bons e baratos ou, pelo menos, acessíveis. Damos três exemplos de vinhos de regiões e com características diferentes, mas similares na relação entre qualidade e preço, que é excelente.
Ribeiro Santo Vinha de Santa Maria Granítico Dão Branco 2019
Elaborado com uvas de Encruzado, a casta branca que é rainha do Dão, teve fermentação em cubas de inox, estágio em barrica, e resultou um vinho de aspeto cristalino, cor citrina com reflexos esverdeados, aroma limpo e fresco, com boas notas frutadas e florais, paladar bem estruturado com volume, fruta e frescura aliciantes. Para beber já ou guardar alguns anos. €12
Herdade do Rocim Regional Alentejano Rosé 2019
Só de uvas de Touriga-Nacional, porventura a mais nobre das castas tintas portuguesas, com vinificação em bica aberta e estágio de três meses em garrafa. Distingue-se pela delicadeza: desde a cor, que é salmão-pálida, até ao aroma forte e jovem, com muito boas notas frutadas e florais, e ao paladar elegante, marcado pela frescura com sugestivo toque mineral. €8,15
Villas-Boas Reserva Douro Tinto 2017
Touriga-Nacional, Touriga-Franca e Tinta-Roriz, três castas de excelência do Douro neste vinho de cor vermelha, com reflexos grená, aroma complexo e forte, com notas de especiarias e leve tostado, paladar harmonioso, bem estruturado, com taninos finos, marcantes, e final longo, persistente, apelativo. Para beber ou guardar durante boa meia dúzia de anos. Não filtrado, podendo apresentar depósito. €6,99