Entramos no novo restaurante do chefe Kiko Martins e pomo-nos logo a bambolear, ao som da música que sai das colunas. A culpa é do samba Você Abusou, cantado por Maria Creuza. A coisa fica ainda mais animada quando nos propõem uma caipirinha de lima, maracujá ou goiaba (não há variantes com vodka e a cachaça é mesmo boa). “Tirou partido de mim, abusou…” Com o pé sempre a bater ao ritmo brasileiro, por baixo da mesa de tampo de mármore, provamos o pão de queijo e as tostinhas de centeio que chegam com uma pasta de salsicha calabresa e outra de queijo catupiry. Sem sairmos da praça mais central de Lisboa, estamos oficialmente a pairar sobre o Rio de Janeiro, essa cidade maravilhosa, de que guardamos boas memórias e muitas têm que ver com comida. O mesmo tipo de recordações que levou o chefe Kiko a abrir este boteco de assinatura (boteco é uma espécie de tasca, de porta aberta para a rua, onde se pode beber uns chopes, petiscar um pastel de vento ou comer algo mais substancial, como uma feijoada). “Vivi até aos 11 anos no Rio de Janeiro, por isso cresci com esses sabores. Esta ideia sempre esteve na minha cabeça”, revela. As enormes janelas rasgadas para a praça, por onde se aprecia o eterno vaivém de gente, revelam também o interior decorado pelo irmão do chefe, António Martins, no qual sobressai uma peça do decorador, feita com garrafas de vidro. Na parede ao fundo da sala, Bordalo II pendurou um barco em que a bordo está parte do caos carioca. Ainda há três enormes espelhos e dois balcões em madeira escura, onde ficamos se viermos só para imperiais e petiscos.
A ementa descreve-nos a coisa com precisão e por isso, mesmo sem ajuda, ficamos a saber que os croquetes de feijoada (a não perder, segundo o chefe) são recheados com as carnes da feijoada e feijão-preto (três, €6,40). Continuando a seguir as ordens de Kiko, apostamos nos pastéis de queijo coalho, um delicioso queijo muito popular entre os brasileiros e que agora é produzido no Alentejo (três, €6,20). Se quiséssemos continuar nas coisas mais leves, haveria mariscos e sandubas, um pão com pouca expressividade em que se deixa o interior brilhar. Mas preferimos experimentar o escondidinho (espécie de empadão, mas de mandioca) com pernil estufado a baixa temperatura (€19,20). Se tivéssemos estômago para mais pratos de consistência, a feijoada (€18,70) ou a picanha Wagyu (€27,40) teriam sido boas opções. Para sobremesa, os apreciadores saberão que só pode ser quindim. Tudo ao ritmo brasileiro, como a música que nos impede de almoçar quietinhos.
O Boteco > Pç. Luís de Camões, 37, Lisboa > seg-dom 12h30-23h30 > não aceita reserv