Quase sete anos depois de ter sido referido pela última vez nesta rubrica, o restaurante Camelo da Apúlia volta a estar em foco por ter recuperado a qualidade inicial, tanto ao nível dos produtos – sobretudo peixe fresco, selvagem, do mar – como da culinária, confiada a Fernanda Montenegro, que é uma cozinheira de mão-cheia. Também se registam melhoramentos nas instalações: mudou a entrada, renovou o móvel do aquário, implantou a garrafeira no primeiro andar e abriu a esplanada no exterior, por exemplo. E manteve duas características que o distinguem dos demais restaurantes da zona: boa comida de tacho e bela vista do mar.
Na ementa, que é extensa e diversificada, destacam-se o marisco, “rei da festa”; o peixe, “selvagem como o mar”; e a carne, “herança da casa-mãe”, numa referência óbvia aos pratos vindos do célebre restaurante da família Camelo em Portuzelo, Viana do Castelo. Do grande rol de mariscos saem algumas das entradas mais pedidas, como “amêijoa ‘macho’ verdadeira à Bulhão Pato”, mexilhão à espanhola, santola e sapateira ao natural ou recheadas, “tigres na brasa”, camarão da costa, ostras e perceves, entre outros, mas há quem prefira, e não sem razão, petiscos diferentes que vão dos cogumelos salteados com castanhas à bola de carne e dos simples “bolinhos de bacalhau” às “tripinhas à moda do Porto”.
Os peixes grelhados têm o seu espaço e os seus apreciadores, com destaque para as sardinhas, no seu tempo, robalos, douradas, linguados e rodovalhos (por encomenda, também podem ser assados no forno a lenha, em especial robalo, pargo e goraz, que ficam deliciosos), mas os pratos mais emblemáticos saem do fogão: arroz de robalo, que está na ementa desde o início e que dela não pode sair (só robalo, preservando o sabor delicado da sua carne); arroz de tamboril com gambas, também com história na casa; arroz de lingueirão com raia frita, mais recente, mas já na memória de muitos clientes; arroz de lavagante, também novo e apelativo, com “navegante” da costa, saborosíssimo, sem casca; peixe-galo frito com arroz ou açorda de ovas, o prazer que se sabe; e os imprescindíveis pratos de bacalhau (seco e demolhado na casa, como manda a tradição) à Camelo (tipo “à Braga”, frito, com batatas fritas às rodelas e cebolada), à Gil Eanes (no forno com batatas, grão-de-bico, azeite e alho) e assado na brasa (tipo lagareiro).
Quanto a carnes, pensem num cabritinho (que é mesmo pequenino) assado no forno a lenha com o seu arroz (de forno, claro), no sarrabulho com rojões e enchidos caseiros, no arroz de cabidela, que é “de galo pé descalço caseiro” (coisa que ainda existe, mas não pode ser dita…), e, se for quinta-feira, nas tripas à moda do Porto, único prato com dia fixo, e vão ao Camelo da Apúlia, que vêm satisfeitos. Boa doçaria totalmente caseira, sendo emblemáticas as rabanadas com molho de pinhões. Garrafeira considerável. Serviço irregular, sempre simpático, mas, por vezes, desatento, apesar da vigilância notória do dono da casa, Rui Camelo.
Camelo da Apúlia > R. do Facho, Praia da Apúlia, Apúlia, Esposende > T. 253 987 600 e 91 253 9666 > seg-dom 12h-15h, 19h-22h30 > €25 (preço médio)