Das colunas sai Brown Eyed Girl, de Van Morrison, e a canção de 1967 na voz do músico de Belfast faz-nos esquecer o movimentado Chiado e aproveitar o momento. Estamos na esplanada da cafetaria do Museu do Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), aquecida pelo sol de inverno e com o bonito Jardim das Esculturas por companhia. “Do you remember when we used to sing/ Sha la la la la la la la la la la dee dah” soa melhor do que nunca e damos por nós a pensar que bem que se está neste pátio (também há uma sala, diga-se já, para os dias de chuva ou em que as mantas não são suficientes, livros, revistas e jornais para leituras demoradas).
A cafetaria do MNAC esteve fechada durante quase um ano e reabriu, em junho, pelas mãos de Maria João Mayer e João de Menezes Ferreira. Ela é produtora de cinema, ele foi crítico de música, advogado, professor universitário e deputado. Chamaram-lhe Spleen, uma referência a O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire, e à palavra baço, órgão que os gregos antigos julgavam sede de melancolia e dos humores. Bons humores ou não fosse de encher o olho e saciar o apetite o que sai da cozinha, entregue a Elisa António. Os créditos vão todos para a cozinheira de 31 anos, sublinham Maria João e João de Menezes: “É ela o pilar deste projeto, que quer aliar o sítio com a boa comida”.
Na ementa, Elisa junta ideias suas, memórias dos cozinhados da mãe e da avó, produtos da época e muitas ervas aromáticas, fazendo-se valer da experiência dos sítios onde trabalhou (restaurante Eleven, “verdadeira escola”, hotéis Vila Galé Ópera e Vintage). E que no menu de almoço, servido durante a semana e composto por sopa (€3,50), um prato veggie (€9) e outro de proteína (€9,80), soa assim: sopa de abóbora assada e suas sementes; caril de tofu e Erva Príncipe, legumes de inverno, arroz thai com jasmim, canela e limão; peixe do dia braseado, com couve-flor bicolor, cremoso de batata-doce e coentros. Ou assim: creme de grão-de-bico e crocante de presunto; strogonoff de seitan; rosbife com batata-doce e cenouras algarvias.
No fim, guarde-se espaço para o bolo de laranja húmido com dióspiro laminado, compota de abóbora, iogurte natural com gengibre e canela. Ao fim de semana há brunch, em versão buffet, com tudo a que se tem direito (€13). Coisas boas, que sabem ainda melhor neste cantinho no meio do Chiado, mas abrigado da confusão.
A Spleen estende-se ao primeiro andar do Museu do Chiado, onde fica o salão para almoços e jantares de grupo, com janelas viradas para a Rua Capelo. Na mesa comunitária sentam-se 12 pessoas, mas há a possibilidade de servir refeições volantes e assim receber grupos maiores.
Spleen > R. Serpa Pinto, 4A, Lisboa > T. 93 504 5265 > ter-dom 10h-18h