Quase não se dá por ela, mas a casa, com fachada de azulejos verdes, situada no centro de Felgueiras, esconde um património histórico e gastronómico pouco comum. As armas reais decoram a parede da escadaria de madeira da entrada, a fazer lembrar que este pão-de-ló, leve e fofo, passou a fornecer a Casa Real em 1893, na mesma época em que Leonor Rosa da Silva registou a marca. Mas a receita do pão-de-ló de Margaride, nascido nesta freguesia de Felgueiras, terá começado a ser feita anos antes, em 1730, pela D. Clara Maria. A casa, de 1900, é toda ela um museu – a começar pela cozinha com dois fornos a lenha (um dá para 33 kg, outro para 44 kg, onde só entram formas de barro) e várias batedeiras antigas – e está aberta a visitas. É Guilherme Lickfold, 41 anos, o mais novo de cinco irmãos que herdou a receita de família (há registos desde o bisavô) quem assume, atualmente, os comandos da marca.
Chegam às seis da manhã, as cinco mulheres, com idades entre os 50 e 60 anos, que ali fazem o pão-de-ló, de forma artesanal, desde a adolescência. Começam por aquecer o forno a lenha – “sem o forno quente não se faz nada”, dizem – e por partir os ovos: gemas de um lado, claras do outro, alguns ficam inteiros, sem que se conheçam as quantidades que entram na massa. Parece residir aqui, aliás, o segredo desta receita centenária e só Guilherme Lickfold sabe a quantidade certa para que este pão-de-ló fique leve e fofo, características que o tornaram célebre ao longo de séculos. Açúcar e farinha fazem o resto. E muita minúcia das cinco mulheres que juntam a massa, aguardando que esta fique fofa, depois de quase uma hora, para a frente e para trás, nas pás das batedeiras antigas.
Deitado sobre um papel, colocado nas formas de barro, o pão-de-ló fica no forno entre 50 minutos a uma hora. Depois de arrefecido, é embrulhado num plástico e posto, com todo o cuidado, numa caixa octógonal, onde é incluída uma folha com a história da casa e um naperon de papel a fazer lembrar os tempos idos. Tudo requintado, pois.
A massa serve ainda para fazer as não menos célebres Cavacas de Margaride que, depois de sairem do forno, onde cozem durante cerca de cinco minutos, são barradas com uma calda (com claras de ovo, água e açúcar) aquecida numa cuba de latão e cobertas com fondant que lhe deixa o riscado característico. Tanto as cavacas como o pão-de-ló de Margaride (€15/kg) são vendidos aqui na casa, mas podem ser encontrados nas lojas El Corte Inglès (Porto, Lisboa e Coimbra), Casa de Ló, Comer e Chorar por Mais (Porto), Manuel Tavares, Charcutaria Riviera, Charcutaria A Diplomata (Lisboa), Pastelaria Ribeiro (Cascais).
Pão-de-Ló de Margaride > Pç. da República, 304, Felgueiras > T. 255 312 121 > seg-dom 9h-12h30, 14h-19h