É impossível resistir a tanto charme – já cantava Pedro Abrunhosa. A simpatia, a genuinidade e a consistência do seu trabalho, leva-nos a aceitar sem hesitação o convite de Tanka Sapkota para jantar. Durante 12 dias, a partir desta terça, 25, e até 5 de novembro, no Come Prima, em Lisboa, serão servidos cerca de quatro quilos de trufa branca de Alba, a cada dois dias. “Este ano são grandes, mas estão difíceis de arranjar”, conta Sapkota, que paga perto de quatro mil euros por cada quilo deste fruto subterrâneo, uma das espécies de túbera (um género de fungos da família Tuberaceae). Quem lhe vale é o italiano Benvenuti que, com o seu cão pisteiro, em Alba, lhe envia os carregamentos. Há qualquer coisa de dealer nesta conversa.
Que há muitas maneiras de confecionar uma bruschetta nós já sabíamos, mas, na verdade, as do Come Prima são exímias, com um pão feito no forno a lenha da casa e o tártaro de tomate apetitoso. À média-luz, num ambiente cosmopolita onde se ouve falar português, italiano, inglês, a cada prato que sai da cozinha, na sua maioria tajarin com salvia (€36,50), Tanka Sapkota vai até à mesa dos clientes com a sua caixinha de vidro debaixo do braço. Ali guarda as trufas brancas de Alba, envoltas num pano, em cima de arroz, como se de um tesouro se tratasse. As lascas finíssimas caem em cima dos ovos ou da massa fresca com uma leveza em nada proporcional à intensidade do aroma. Perfume para os nossos narizes. Como é possível que dois simples ovos biológicos (€29,90), que estiveram uma hora e um quarto no forno a 61 graus provoquem tanto prazer? Indescritível. Na mesa ao lado, espreitamos a versão de ovos mexidos com manteiga e pão torrado (€29,90) e muito mais há para escolher: risotto alla parmigiana (€36,90), ravioli com recheio de queijo ricotta e fontina com manteiga e parmesão (€36,90), escalopes de vitela jovem, fritos em manteiga com tajarin com manteiga (€44,90). Depois de lascar cerca de sete gramas de trufa em cada prato, Tanka dá a cheirar às pessoas e ordena, literalmente, que comam de imediato. Esqueçam qualquer regra de etiqueta que mande esperar pelo prato da sua companhia. E ai de alguém que corte a massa com a faca. Tanka surge de imediato para impedir o sacrilégio.
Apesar de o menu de degustação das trufas se manter na mesma, a restante ementa teve, este ano, algumas novidades que já se afirmaram como boas escolhas. Tanka apostou em produtos nacionais e serve rigatoni com ragu de porco preto alentejano de bolota, cozido a baixa temperatura com tomate, ervas fresca e queijo de cabra atabafado da serra de Serpa (€15,95), spaghetti com amêijoa (€15,95), spaghetti nero com gambas do algarve e percebes das Berlengas (€16,95), spaghetti nero com carabineiro do Algarve (€32,95), ossobuco de vitela mirandesa com boletos (€19,95).
Na sua garrafeira guarda 80 tipos de grappa, a típica aguardente italiana e, para digerir a refeição, nada melhor do que um cálice de Nebbiolo di Barolo. E depois, uma boa caminhada.
Come Prima > R. do Olival, 258, Lisboa > T. 21 390 2457 > 12h-15h (seg-sex), 19h-23h, sex-sáb até 24h