Hugo Nascimento, braço direito do chefe Vítor Sobral na Tasca da Esquina, está a trabalhar desde as sete e meia da manhã e não tem previsão de sair do festival antes das duas da madrugada. Lá para as três, deverá chegar à cama. Mas esta sexta-feira, 20, há mais e para a semana, de 27 a 29, também. É preciso preparar o conduto das três sanduíches que, em parceria com o restaurante A Charcutaria, criou para os espectadores do Rock In Rio. Habituados a participar em festivais de gastronomia, como o Peixe em Lisboa, por onde passam também milhares de pessoas, sabe que, no Rock in Rio, o volume de trabalho será muitíssimo maior. Em cada dia de festival têm pela frente a confeção de cerca de três mil sanduíches, sendo que uma coisa é certa: devem servir uma pessoa por minuto.
Para simplificar, escolheram ingredientes cuja preparação pode ser feita antecipadamente. A sanduíche Tasca da Esquina com sardinha em conserva, escabeche de pimentos, cogumelos assados, coentros e bacon promete ser a de sabor mais forte. Mas nós provámos a Bom Petisco, de atum em bolo do caco, com tomate assado, emulsão de anchova e manjericão e garantimos que é super apetitosa, macia, com intensidade e frescura. Por último, a Charcutaria leva paio, emulsão de mostarda, várias alfaces e pickles caseiros de pepino. Todas custam 6 euros. Com o lema “pode ser fast mas tem de ser food“, Hugo Nascimento não falou com o seu vizinho Kiko Martins para saberem o que cada um ía cozinhar, mas acreditou que o chefe de O Talho e A Cevicheria arriscaria em algo mais internacional.
E não se enganou. No bar do lado há sabores com uma “onda mais grega”, outros que misturam continentes como a Ásia e a América do Sul. Entre uma selfie com alguns dos primeiros que passaram o pórtico do Parque da Bela Vista, aos cumprimentos dos amigos, Kiko Martins (com a sua aura de estrela rock) vai explicando que agora já está tranquilo. “Desafios como este ajudam um chefe a desenvolver a sua capacidade de planeamento e na vida é preciso aprender a desenvolver muitas valências”, explica. As maiores dificuldades, mais do que ter uma ideia do que se vai servir, é “perceber o volume da operação associado às condições de segurança e higiene alimentar que existem, nunca esquecendo que é preciso servir algo equilibrado e eclético, que não seja elitista”. Os três wraps (€6 cada wrap) que idealizou passam no nosso crivo. Vai ser difícil a escolha entre o de rosbife de picanha, vinda do Uruguai, com kimchi (um tempero coreano feito com couve fermentada) e rúcula, o de salmão fumado com ricota, alcaparras e mistura de alfaces e o vegetariano com beringela salteada, queijo feta, tomate seco e azeitonas. Mas com cinco dias de festival podem provar-se todos e repetir o preferido.
Para os quatro mil wraps diários que Kiko Martins espera vender, foi preciso encomendar 650 quilos de picanha, 800 beringelas, 450 quilos de salmão, uma palete de mistura de salada que leva mizuna, rebentos de ervilha e rúcula selvagem, entre outros números. Imprescindíveis e viciantes são as batatas-doces fritas, servidas num cartucho (€2,50). São de Aljezur, mas fritas em azeite de Trás-os-Montes. Uma volta a Portugal e ao mundo que, nas palavras do chefe, deve ser “simples mas não simplória”. A ver se Kiko consegue concretizar um desejo: convidar Johnny Depp para ir comer a’ O Talho.
Um imprevisto fez com que o chefe Nuno Bergonse não conseguisse vir ter connosco, mas no seu lugar estava outro anfitrião perfeito: Manuel Aguiar, o seu braço direito na Marisqueira Azul, no Mercado da Ribeira. Apesar de ser um especialista em marisco, Manuel arregaça as mangas e vai servir cachorros mesmo em frente do Palco Vodafone. Sem dúvida um lugar privilegiado. Nesta parceria com os Hot Dog Lovers, primeiro abre-se o pão, depois vem a salsicha, o molho de mostarda, o molho branco, batata frita, couve, queijo, outro molho e cebola frita. Ufa!, este é hot dog “com tudo”. Quem quiser as suas versões mais saudáveis, saiba que elas também existem e são saborosas, especialmente o que leva guacamole. O preço dos cachorros oscila entre os €4,5 e os 7 euros.
Se esquecermos as filas de espera ou o facto de nos besuntarmos a comer à mão, veremos que esta deverá ser uma das melhores ofertas gastronómicas dos festivais de música. Associado a um preço muito justo e acessível, uma média de oito euros, já com bebida.