A paisagem de vinha medieval que se encontra em terras de Ourém, no centro do país, é única, porque mostra como eram as técnicas ensinadas pelos monges de Cister nos seus domínios, quando vieram para Alcobaça, na segunda metade do século XII (também há notícia da sua presença, em finais do mesmo século, no mosteiro de Tomareis, que terá existido na região ouriense, entre as atuais povoações de Olival e Urqueira – precisamente onde se encontram vinhas medievais). São inúmeras e pequeníssimas parcelas de vinha que, em média, não ultrapassam os 0,3ha, com um compasso muito apertado e irregular, cepas conduzidas em taça e podadas em talão, geralmente retorcidas, pontuando colinas que, no mais, estão ao abandono. Predominam as castas bancas. Aqui não há condições para utilizar máquinas e todo o trabalho é braçal, como na Idade Média. Trata-se de um quadro vivo da tradição mediterrânica e, por isso, de um património único, que urge preservar.
Também singular é a vinificação das uvas para fazer o célebre palhete, em adegas e com técnicas iguais às do passado. O estilo de vinho corresponde ao que durante muitos séculos foi produzido e consumido no espaço mediterrânico e que os autores latinos há muito descreveram. As adegas são frescas, escuras, quase sempre integradas na habitação do pequeno vitivinicultor. Este não pode ter devaneios com o engarrafamento e a comercialização do vinho, por ser tão diminuta a produção, mas recebe quem passa, dá o vinho a provar e vende à porta o que lhe sobra. Ao visitante, basta perguntar onde é que se encontra uma adega e bater à porta, que pode ser a do senhor Adriano, em Aldeia Nova, onde apenas um carreiro separa a vinha da adega. Uma e outra são tipicamente medievais, tal como o trabalho que dão a Adriano e à mulher, que fazem tudo. Há casas com maior dimensão, como a Quinta do Montalto, que vai na quinta geração e que optou pela produção biológica. Comercializa os seus produtos com marcas próprias, exportando a maior parte dos vinhos, incluindo o Medieval, e tendo o restante, bem como outros produtos, muito bem cotados nas lojas Bio.
Quinta do Montalto
Medieval de Ourém 2015 Promete agradar este palhete, que foi feito com uvas das castas Fernão Pires (80%) e Trincadeira (20%), cada uma das quais teve a sua vinificação: as brancas, de bica aberta, em vasilha de madeira; as tintas, com curtimenta e pisa a pé em lagar, após desengace e esmagamento. É um vinho de aspeto límpido, cor rubi suave, aroma atraente com algum frutado, paladar impressivo, bem estruturado e equilibrado. Para beber enquanto jovem, nos próximos dois anos, com pratos não muito pesados. €6,50