Luz natural é coisa que não falta neste restaurante que já foi uma fábrica de conservas, e ainda bem. Também não admira, tal o tamanho das janelas, a acompanhar a inclinação da Travessa do Almada, que ladeia a sala ampla. As mesas e as cadeiras de madeira clara não têm grande história, nem toalhas que as tapem, até porque os olhos tendem a direcionar-se para o teto, de onde pendem candeeiros minimalistas. E as plantas aqui trepam ao contrário, emaranhando-se por uma estrutura de metal preto. Nem os mais distraídos conseguem passar ao lado da bonita garrafeira que se arruma no topo da sala. Lá dentro há vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais. Aliás, não nos custaria nada roubar estes adjetivos para falar dos produtos que o chefe António Galapito, 27 anos, escolhe para a ementa do seu primeiro restaurante (antes, esteve em Londres, com o mítico chefe de cozinha português Nuno Mendes). Mas vamos servir-nos das suas próprias palavras: “Todos os nossos pratos são baseados em ingredientes nacionais, sazonais e frescos. E tento que a maioria seja orgânico.”
A ementa fica a matar com a sala onde nos sentamos para a ler. É de uma simplicidade desconcertante, onde nada falta e os pormenores estão lá para fazerem subir o nosso índice de felicidade. São 12 sugestões, que mudam consoante o mercado e aquilo que os produtores tiverem para entregar. É a exigência de frescura que permite a António Galapito praticar, com muita imaginação, uma culinária de pouco desperdício. Este não é um statement que ele faça questão de passar aos clientes, mas quem não gosta de saber que há por ali pessoas aproveitadinhas? Por exemplo, um soro que serve para temperar alguns pratos, depois de emulsionado com manteiga, não é mais do que a sobra do queijo fresco de cabra que fazem na cozinha.
As doses são pequenas, avisa o chefe, daí o preço simpático (entre €4,5 e €18). Aconselha a que se partilhe, fazendo as contas a duas ou três por pessoa. Só que há pratos mais consistentes que outros, acrescentamos nós: uma couve-coração, soro e nozes, não alimenta tanto como um lombo de porco preto, shikuasa e acelgas. A oferta não acaba sem se arriscar numa das três sobremesas, apresentadas sem grandes descrições. Peça-se ajuda à chefe de sala, que ela namora com o dono e deve saber explicar bem do que se trata quando se escreve “queijo fresco, granita de funcho e clementina” ou “batata-doce, gelado de leite fumado e mel”.
Prado >Travessa das Pedras Negras, 2, Lisboa > T. 21 053 4649 > qua-sáb 12h-15h, 19h-23h, dom 12h-17h