O encerramento da loja da Fábrica Sant’anna no edifício do Chiado, propriedade do grupo Visabeira, que ali pretende construir um hotel, tinha como data limite esta quinta-feira, 8, mas atingido o prazo para o despejo, a loja mantém-se de portas de abertas. Depois de contestada a denúncia do contrato enviada em abril deste ano pelo grupo proprietário da Vista Alegre, e frustradas as tentativas da Sant’anna no sentido de chegar a uma solução que seja boa para ambas as partes, os proprietários da fábrica aguardam agora futuros desenvolvimentos, esclarece Francisco Tomás, diretor comercial da Fábrica Sant’anna. “Tudo parece encaminhar-se para a via judicial, a não ser que a Câmara Municipal de Lisboa, que tem aqui um papel importante, intervenha”, diz Francisco Tomás.
Em junho, a fábrica Sant’anna enviou um pedido ao município para que a loja fosse classificada de interesse municipal. “A resposta foi que a loja nada tem de único e de interesse para a cidade e foi considerada um depósito da fábrica”, lamenta Francisco. “A loja faz 100 anos em 2016, tem azulejos do início do século passado e é o principal ponto de venda da última fábrica de azulejos de Lisboa. E mesmo assim, não é uma loja de interesse?”, questiona.
Recorde-se que, além da loja da Sant’anna, também a loja de iluminação Ana Salgueiro, e o restaurante Das Flores, já na Rua das Flores, foram destinatários da ordem de despejo. Contactada pela revista VISÃO, a Visabeira alega, através de José Arimateia, das Relações Públicas do grupo, que “o estado de degradação do imóvel é evidente e a construção da infraestrutura hoteleira implica, tanto do ponto de vista técnico como legal, que sejam realizadas obras de remodelação e restauro profundos”. Acrescenta ainda que as obras do futuro hotel “implicam vários tipos de intervenção que oferecem perigo para a segurança das pessoas, sobretudo, dos atuais inquilinos de frações do imóvel”.
O projeto de arquitetura foi aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa, tendo o município, em janeiro deste ano, comunicado à Vista Alegre, uma das empresas do grupo, a sua decisão. Por ser um edifício inserido num conjunto de Interesse Público da Lisboa Pombalina, os trabalhos vão centrar-se, esclarece a Visabeira, “na reformulação interior dos espaços e percursos, adaptando-os a quartos, suites, zonas de estar e zonas técnicas e de serviço”. As obras do novo hotel, que a Visabeira diz ser inspirado na obra de Bordalo Pinheiro e no património da marca Vista Alegre Atlantis, deverão estar concluídas no final de 2016.