O que não pode perder das Festas de Lisboa

Créditos: José Caria Créditos: José Caria

Junho é mês de arraiais, de sardinha assada, de balões e manjericos. Depois de uma semana intensa de trabalho, acendem-se os fogareiros e começa a festa

365-festas-1 — Créditos: José Caria
Créditos: José Caria

No Beco do Resendo, ao Poço do Borratém, há lanternas, bandeirolas e grinaldas penduradas. Neste local a animação concentra-se nas noites de sexta-feira e sábado, com sons diferentes dos outros arraiais, “espelho da multiculturalidade” e “com bandas daqui, porque este é um bairro de artistas”, explica Inês Andrade, da associação Renovar a Mouraria, que, desde 2008, desenvolve um trabalho de dinamização cultural, social e turística no bairro.

No programa dos próximos dias encontramos as canções de JP Simões (14, 22h), as fanfarras dos Original Bandalheira (21, 22h), o tango pela orquestra Tano Brancamenta (22, 22h), os sons de Angola de Aldo Milá (29 jun, 22h) ou uma noite bollywood pelo Dj MK (29, a partir das 24 horas). Só na noite de Santo António é que haverá música de arraial, com os Telefonia, um grupo de amigos músicos que vai juntar-se para tocar e cantar um reportório que inclui Marco Paulo, José Cid, Doce, José Mário Branco e “pimbas” à mistura, a partir das 22 horas. “Este bairro está diferente”, desafia Inês Andrade.

Associação Renovar a Mouraria

Beco do Rosendo, 8 T. 21 888 5203

7-8, 12-13, 15, 21-22, 28-29 jun 22h-2h

www.facebook.com/renovar.a.mouraria

Alfama está toda engalanada. E não há largo, rua, travessa, beco ou calçadinha que não tenha o seu retiro, de onde saem para as mesas, sardinhas, febras, entremeadas, chouriço assado, caldo verde, muita cerveja e sangria. À volta da igreja de S. Miguel, por exemplo, começa-se a carregar material e a martelar pelo menos oito dias antes. Maria da Pita tem 50 anos e faz isto “desde criança”. Ainda é do tempo em que se punham cravos no bolso dos senhores e nas mãos das meninas e o “preço era o que se quisesse dar”. A freguesia de S. Miguel é a que concentra maior número de ruas reservadas aos arraiais, organizados pela Associação Recreativa Amigos de S. Miguel. Além dos comes e bebes, planeia-se o baile. Nos serões de sexta e sábado e na noite de Santo António, pelo palco encostado a uma das paredes da igreja, vão passar os clássicos da música popular portuguesa, incluindo Pai da Criança ou Aperta, Aperta, Com Ela, como é mais conhecida a canção Baile de Verão, de José Malhoa.

Na travessa do Chafariz D’El Rei, a esplanada do restaurante Porta D’ Alfama é um barco do Tejo, embora ali estejam igualmente as janelas típicas do bairro, com as roupas penduradas na corda. Tininha de Alfama, a dona, canta o fado, “mas também vai bombar música pimba”, diz. Outro dos locais concorridos é o Pátio 13, na Calçadinha de Santo Estêvão, onde os fados e as marchas embalam as sardinhas servidas à dose, explica Carlos Alberto, na casa há 16 anos. O restaurante só funciona na primavera e no verão, por isso é aproveitar os próximos dias de grande movimento. Reservas não há, é chegar e esperar por uma mesa.

Diz-se que a descer todos os santos ajudam mas, neste caso, o acesso mais direto ao arraial da Bica faz-se pela Rua de S. Paulo, subindo a calçada da Bica Grande. “Até à travessa do Cabral, ao cimo da calçada, é o Marítimo Lisboa Clube que organiza o arraial”, diz Rosa Cândido, a responsável pelo bar do clube de futebol fundado em 1944, que não dá descanso ao pessoal. “Ó fraquezas, toca a acartar com as mesas”, atira para o lado.

A agitação por aqui costuma ser grande. Os Pão com Manteiga, a banda residente que atua num palco montado em andaimes, garante o baile à sexta-feira e sábado e, no final da noite, o vocalista Jacaré agradece a paciência dos vizinhos. “A Bica é linda”, diz Rosa, com orgulho. Mesmo aqui ao lado, no Largo de Santo António, o senhor Domingos já está no palco, mas dançarinos nem vê-los.

Glória Lobo, presidente da direção do Grupo Desportivo Zip Zip que organiza a festa, tem esperança de que, no sábado, as coisas animem. Até à noite de Santo António, é “sempre bom”, diz. Mais acima, na rua da Bica Duarte Belo, assam-se as primeiras sardinhas no fogareiro, à porta do Grupo Excursionista Vai Tu (T. 21 346 0848), um dos pontos de passagem obrigatória do bairro. A fechar o triângulo, há barraquinhas de farturas e bifanas, caipirinhas e janelas abertas para a rua, onde se vende cerveja e sandes.

Marítimo Lisboa Clube

Beco dos Aciprestes, 3 R/C T. 96 183 38687-9, 14-16, 21-23, 28-30 jun 21h-2h. 12 jun 21h-4h

Grupo Desportivo Zip Zip

R. dos Cordoeiros, 15 T. 21 347 75997-9, 14-15, 21-22, 28-29 jun, 21h-2h. 12 jun 21h-4h

No renovado Largo do Intendente, a noite de Santo António celebra-se com música a acontecer num palco diferente: as fachadas dos edifícios. O anfitrião é o alfacinha Biru que, com as suas rimas, fará a apresentação, a partir das 19 e 30, dos músicos convidados a atuar nas varandas e janelas de um prédio do largo Residências: Batida, Paus, Cais Sodré Funk Connection e Da Chick. Fotografias da artista plástica Ana Telhado são projetadas noutra fachada e, entre concertos, Dj Johnny, fundador do coletivo Cooltrain, mantém a festa ao ritmo do drum n’ bass, dos sons de África, do hip hop e do jazz. E na Casa Independente, a equipa Ginga Beat emite em direto o que está a acontecer na praça, com pequenas intervenções e entrevistas (para ouvir, clique em www.rbmaradio.com). A iniciativa da Red Bull conta com a participação dos estabelecimentos com porta aberta para o largo, e haverá comidas e bebidas até às duas da manhã.