Há dias, o norueguês Erlend Oye, membro dos Kings of Convenience, pediu para pernoitar na vila durante a estadia na 20.ª edição do Festival EDP Paredes de Coura, onde atuará dia 16 com a sua outra banda alemã: os The WhitestBoy Alive. O cantor e compositor prefere dispensar os grandes hotéis e ficar com o resto da banda numa típica casa de pedra da região, com piscina, para melhor desfrutar dos encantos da paisagem. Não é a primeira vez que Erlend Oye passa pela vila encaixada no interior do Alto Minho. No ano passado, após ter atuado com os Kings of Convenience, o músico chegou a tocar uns inesperados acordes à viola, a bordo de um bote nas águas do rio Coura, na mítica Praia Fluvial do Taboão, palco do festival. João Carvalho, responsável pela produtora Ritmos e mentor do Paredes de Coura, recorda que, na altura, o cantor estava alojado num hotel de cinco estrelas no Porto, mas pediu para regressar a Coura na madrugada após o concerto, horas antes de partir de avião.
O cantor norueguês não será o único a ficar rendido à paisagem e acalmia da região. São muitos os forasteiros a rumarem à vila minhota, aliando o cartaz de música alternativa aos encantos naturais da zona. O que deixa “orgulhoso” João Carvalho. Nascido nesta vila, aqui teima em viver com a mulher e duas filhas: Matilde, de três anos, e Carolina, nascida há um mês. “Quando vou ao Porto (onde tem um escritório) só penso em voltar”, admite. E o facto de estar fora das grandes cidades não tem sido um entrave profissional. “Resolvo tudo por telefone e internet, para qualquer parte do mundo.” Embora, recorde, “os dois primeiros festivais (em 1993 e 1994) foram resolvidos à mesa do café, com um daqueles cartões de telefone dos CTT para usar nas cabines telefónicas…” O “João do Festival” como foi carinhosamente tratado durante anos, tornou-se no respeitado João Carvalho, senhor de 41 anos que colocou Paredes de Coura no mapa dos maiores festivais do País. A música sempre lhe esteve no sangue mesmo quando, em miúdo, o principal passatempo era jogar à bola. A carreira deste produtor de espetáculos este ano organizou também o primeiro Primavera Sound português pode, mesmo, ter começado a desenhar-se aos 14 anos, quando, então na Rádio Paredes de Coura, um amigo/locutor lhe pediu para tomar conta do álbum The Final Cut, dos Pink Floyd, que deixou a rodar “no prato”. Só que “a música acabou”, o amigo não apareceu, e o jovem João resolve colocar o single Rendez Vous de Jean Michel Jarre, explicando aos microfones tratar-se de uma homenagem aos astronautas da NASA. Numa altura em que pouco se falava com os ouvintes, choveram telefonemas: “Até que enfim alguém diz alguma coisa…”, diziam. O “bichinho da rádio ” nunca mais o largou e, hoje, apesar de já não fazer programas e de longe irem os tempos do seu “Sem Margem” (um dos seus primeiros programas na rádio local) é proprietário da Rádio Vale do Minho, projeto pioneiro que junta seis municípios desta região: Melgaço, Monção, Coura, Valença, Vila Nova de Cerveira e Caminha. João confessa, aliás, ter “muitas saudades de fazer rádio”. Voltemos à vila. O produtor orgulha-se de ter conseguido que a Praia Fluvial do Taboão seja, hoje, um “paraíso” conhecido por gente de todo o mundo. Por estes dias, as ruas estão enfeitadas à espera das festas da vila (de 10 a 12) e aguardam a chegada dos milhares de festivaleiros que, entre 13 e 17, assistem ao festival que custará dois milhões e meio de euros, e, entre outras atrações, trará de volta os Ornatos Violeta. Para estes ou os que virão em qualquer altura do ano, João Carvalho traça-nos um roteiro da região onde se sente “em casa”.
ROTEIRO POR PAREDES DE COURA
1 – Praia fluvial de Taboão
Tornou-se num dos locais mais paradisíacos, muito por causa do festival. “Antigamente não tinha nada a ver com o que é hoje, era completamente selvagem. Com o festival foram-se melhorando as estruturas”, conta João. “As águas límpidas e o verde envolvente fazem desta praia o local ideal para descansar, passear e desfrutar da natureza.” É, aliás, nas suas margens que os festivaleiros descansam e se divertem. Entre março e julho é possível praticar pesca desportiva. A empresa MinhAventura (www.minhaventura.com) organiza descidas diárias (às 10h) no rio Coura em Kayak (€20/pessoa), com início em Vilar de Mouros e chegada junto à plataforma de embarque do rio. Há ainda a possibilidade de fazer descidas noturnas (€25). A próxima é já dia 13. Tem um restaurante de apoio, que deverá passar a funcionar mais assiduamente a partir de agora. Embora sejam desaconselhados os banhos pela Administração da Região Hidrográfica do Norte, as últimas análises à água da praia fluvial indicam que tem cumprido os requisitos normais.
2 – Paisagem Protegida de Corno de Bico
O santuário natural com cerca de 2 175 hectares tem o estatuto de Paisagem Protegida, abrange cinco freguesias do concelho: Bico, Castanheiro, Cristelo, Parada e Vascões. O Corno de Bico, com 883 metros de altura, é o ponto mais alto onde existem 439 espécies de flora como o narciso-bravo, a fava-de-água e o trevo branco. Na fauna já foram identificadas 188 espécies de animais vertebrados, caso do lobo, lontra, lagarto-de-água, o picanço-de-dorso-vermelho, do tritão-de ventre-laranja, entre outros. Cerca de 25% da paisagem é constituída por carvalhos. No topo das encostas, avistam-se aglomerados de blocos de granito (rocha que domina a região) que vão dando à região montanhosa, um aspeto quase caótico. Para visitar esta vasta área, organizamse percursos a pé, a cavalo ou de bicicleta, além de outras atividades como paintball e rafting.
3 – Casa Grande de Romarigães
É a casa que inspirou e deu nome ao romance de Aquilino Ribeiro (1957), onde viveu o antigo Presidente da República Bernardino Machado e o próprio Aquilino que acabaria por se casar com uma filha do chefe de estado. Situada na freguesia de Romarigães, pode apreciar-se o belo portal de entrada e a fachada da capela, dedicada a Nossa Senhora do Amparo. “A freguesia e a Quinta do Amparo foram fonte de inspiração para um dos mais notáveis romances da literatura portuguesa. Gosto de olhar a casa e recordar o livro. Dá-me calma”, confessa João Carvalho.
4 – Núcleo Rural das Porreiras
Uma pequena aldeia serrana, situada a sete quilómetros da vila, foi transformada numa eira comunitária com oito espigueiros e um núcleo de moinhos de água recuperados nos últimos anos. A merecer uma visita, portanto.
5 – Aldeia de Bico
Incontornável “pela sua singular morfologia, ocupação humana e preservação das tradições rurais”. A aldeia, situada em Plena Paisagem Protegida de Corno de Bico, não chega a ter 500 habitantes.
6 – Colónia Agrícola de Chã de Lamas
Criadas pelo Estado Novo, no âmbito da política de reestruturação agrária, para permitir o cultivo de zonas de extensas zonas de baldio. A escola primária que servia as famílias de agricultores foi um dos edifícios recuperados e a antiga casa do professor foi transformada em dormitório. Está inserida numa zona de paisagens verdejantes.
7 – Centro de Educação e Interpretação Ambiental (CEIA)
Aberto desde 2007, na aldeia de Vascões, desenvolve uma série de ações fundamentais para o desenvolvimento do Programa de Educação para a sustentabilidade da Paisagem Protegida do Corno de Bico. O CEIA (T. 251 780 010) organiza visitas guiadas, passeios pedestres, trilhos, ateliês, sempre com o ambiente como fator primordial.
8 – Povoado Fortificado de Cossourado
Neste local sujeito a sucessivas escavações arqueológicas, encontra vestígios da cultura castreja no Alto Minho. Duas cabanas foram restauradas e mostram as habitações do povoado permitindo ao visitante “um contacto mais concreto com a realidade provável respeitante à Idade do Ferro”, salienta João Carvalho. Aberto diariamente para visitas.
9 – Museu Regional
Aberto desde 1997, o Museu Regional (R. Aquilino Ribeiro T. 251 780 122) recebeu mais de quatro mil visitantes no ano passado. Uma antiga casa de agricultores abastados, do século XVIII, a Quinta da Veiga, conta a história do concelho, conhecido como “Celeiro do Minho”, através do linho e das alfaias agrícolas. No primeiro sábado de cada mês, ensinam-se receitas tradicionais (pastelão, biscoitos de milho, rosca de chocolate, filhoses de água gorda, sopas de mel) na cozinha com forno a lenha. Durante o festival, organiza dois percursos (a €2 cada): o Trilho Corno de Bico (dia 14) e o Trilho das Lajes Altas (dia 16), além de oferecer diariamente, das 15 às 16h, o tradicional Café da Picha (feito numa cafeteira de barro) e biscoitos de milho (€0,50). Pode ser visitado de terça a domingo das 14 às 19 horas.
10 – Loja Rural
De uma antiga cadeia, que já acolheu o posto de turismo e uma biblioteca, nasceu em março, a loja rural (aberta de terça a domingo das 10 às 12 e 30, e das 13 e 30 às 18 horas) onde se vendem os produtos mais emblemáticos da região. Não faltam os biscoitos de milho, as antigas gamelas usadas para moldar o pão, a cestaria, as bonecas de pano, o mel. Organiza ateliês de ervas aromáticas e medicinais (13 Ago), de sabonetes (15 Ago) e de biscoitos de milho (17 Ago). €2
11 – Comédias do Minho
Sediada em Paredes de Coura, a companhia [Prémio da Crítica 2011 atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro] abrange os municípios de Paredes de Coura, Monção, Melgaço, Valença e Vila Nova de Cerveira. “São uma lufada de ar fresco”, salienta o produtor da Ritmos. Esta quinta e sexta, 9 e 10, levam o espetáculo Solar à Quinta do Reguengo, em Monção. O espetáculo de Dança na Paisagem, Lunar sobe a Cerveira (5 a 7 Set) e a Paredes de Coura (12-14 Set).
12 – Centro Cultural
É aqui que se acolhem muitas das atividades culturais e artísticas. Durante o festival, será apresentada uma exposição do fotojornalista do Público, Paulo Pimenta, que descreve a sua forma de ver e sentir o festival ao longo de quase duas décadas através de 40 fotografias. “É um festival alternativo. O ambiente é fantástico e aquele anfiteatro natural é mágico. Toda a envolvência e espírito é diferente dos outros festivais”, descreve o fotógrafo. A mostra está patente de 13 a 17 agosto, das 10 às 18 horas.
13 – Rede de Percursos Pedestres
A Rede Municipal de Percursos Pedestres é constituída por 17 percursos que permitem “apreciar o ambiente, a etnografia e a história”, salienta João Carvalho. O Trilho do Corno de Bico, o Trilho dos Miradouros, o Trilho dos Moinhos, o Trilho de Aquilino, o Trilho Pia dos Quatro Abades são alguns exemplos. Informações em www.cmparedesdecoura.pt
14 – Capela do Dívino Espírito Santo
É a capela mais central, situada no cimo da vila. De construção barroca restaurada e reedificada no século XVIII destacase pela talha dourada do seu interior.
15 – Xapa’s Bar
Um dos bares da zona pedonal da vila. Aberto há 16 anos, aposta na música e na atuação de dj’s ao vivo. Na semana do festival não é exceção. Os festivaleiros ali ficam a ouvir música, a beber cerveja e a comer tremoços e amendoins. Abre diariamente a partir das 10 horas.
16 – Caminhos de Santiago
A aldeia de Rubiães possui um Albergue de Peregrinos que surgiu da adaptação de uma antiga escola primária. A aldeia típica merece a visita, quer percorra ou não os Caminhos de Santiago de Compostela. Possui uma ponte romana inserida na Via Romana que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga).
17 – Igreja Românica de Rubiães
Igreja românica do século XIII, onde tanto a capela-mor como as paredes laterais e o pórtico estão classificados. No adro, avista-se um marco miliário da via militar romana que unia Braga a Astorga. Classificada Monumento Nacional em 1913.
18 – Cascatas das Lages Altas
“Se seguirmos o Ribeiro das Poldras, Infesta, deparamo-nos com um recanto muito especial, conhecido por Lajes d´Água d’Alto. Aqui, o ribeiro, na época das chuvas, precipita-se num profundo poço, formando uma espetacular cascata”, descreve João Carvalho. É um local de uma magnífica paisagem natural. Informações no Posto de Turismo (T.251 783 592).
19 – Gastronomia
“A gastronomia courense é um vasto e rico património, assente em produtos naturais e ecológicos. A truta do rio Coura, os enchidos, passando pelas carnes de cabrito e anho criados nos nossos montes” fazem parte de um conjunto de pratos regionais e da cozinha tradicional. A provar, entre outros, nos restaurantes O Conselheiro, Xisto ou Albergaria.
20 – Campos de Futebol
Para recuperar energias, João Carvalho sugere uma “peladinha” de futebol num dos 21 campos existentes nas freguesias. “Sportinguista doente”, é lá que joga semanalmente com os amigos no lugar de avançado.
CARTAZ COMPLETO DO FESTIVAL EM: www.paredesdecoura.com