O massacre comunicacional de que somos vítimas diariamente (austeridade, dívida soberana, e de seguida: para a economia crescer, é preciso exportar) cerca-nos com uma camada de nevoeiro, que nos esconde um produto que exportamos globalmente desde a década de 40 do século passado, o Mateus Rosé.
Ainda hoje a Sogrape comercializa 20 milhões de garrafas por ano em todo o planeta, que representam 30% da sua facturação anual, registando nos seus 70 anos de história o record de vendas de 50 milhões de garrafas/ano, quando a concorrência internacional não era tão ativa neste domínio. O vinho constitui hoje um negócio planetário, ainda não destruído pela China, onde o Mateus Rosé continua reconhecido como símbolo de Portugal. Ora, foi justamente com um copo de Mateus Rosé que Fernando Guedes recebeu na sua casa no Porto um grupo de jornalistas e críticos de vinhos portugueses a quem apresentou o seu último projecto vínico. Fernando Guedes deixou funções executivas na Sogrape, empresa fundada por seu pai em 1942, mas aos 81 anos continua a visitar regularmente as suas instalações e propriedades nas diversas regiões do País. A Sogrape exerce atualmente também a sua atividade produtora no Chile, Argentina e Nova Zelândia, não virando assim costas aos apelos do designado “novo mundo”. Assim se compreende que um Riesling neozelandês de 2009 de vinhas velhas tenha aberto o jantar à mesa, a que se seguiu um tinto do Douro, Legado 2008.
Era esta a novidade da noite e aquilo a que Fernando Guedes designou por Legado, razão do convite e do convívio.
Trata-se de um tinto produzido a partir de uvas colhidas em 7 hectares de vinhas velhas com mais de cem anos da Quinta do Caêdo, com castas misturadas (Rufete, Tinta da Barca, Donzelinho, Tinta Amarela, Touriga Nacional e Touriga Franca), que estagiou dois anos em barricas novas de carvalho francês. É um vinho vigoroso, taninoso, com frescura, que vai durar longos anos na garrafa. Apenas serão comercializadas 3 000 garrafas desta colheita, quantitativo que não será ultrapassado em futuras declarações deste Legado, que surgirá sempre que a equipa de enologia assim o entender. Depois do Porto Ferreira Vintage 1952 e do Sandeman Porto Tawny 40 anos com que se fechou a noite, o que me ficou de decisivo neste encontro é que o Legado da Sogrape é esta empresa familiar modelar, de sucesso continuado, que tem animado a economia portuguesa.
Mais Sograpes existissem, no sector dos vinhos como noutros sectores da economia, e não seriamos cercados por aquela massa de nevoeiro que nos impõe a austeridade.
O vinho da semana
Tinto
Sogrape Legado Douro 2008 €75