O Dragão está virado do avesso. O relvado do estádio do FC Porto foi retirado há quase duas semanas – logo após o último jogo da Liga – para receber um campeonato único em Portugal. Pela primeira vez, o Porto recebe a etapa sul europeia daquela que é considerada “a corrida das corridas”, a Race of Champions (ROC) Southern Europe Final, num investimento global superior a 3 milhões de euros.
Na ROC competem, lado a lado, os melhores pilotos do mundo. Pelo menos, foi com essa intenção que foi criada em 1988, em Paris, pela IMP (International Media Productions), presidida por Fredrik Johnsson e por Michèle Mouton, esta última considerada a melhor piloto feminina de ralis. O objectivo inicial era pôr os maiores pilotos de ralis do mundo a competir em carros iguais numa pista paralela (no caso do Porto, conduzem os Solution F, o ROC Car, o KTMX-Bow e o RX 150). Uma espécie de tira-teimas para apurar o “Campeão dos Campeões”. No entanto, pilotos de outras áreas – que não apenas de rali – têm participado e alcançado sucesso. É o caso de Valentino Rossi (motociclismo) ou Michael Shumacher (Fórmula 1).
O talento é, então, a premissa principal. E terá sido essa habilidade que fez o francês Sébastien Loeb (vencedor do Campeonato Mundial de Rali de 2004 a 2008) vencer a final da ROC no ano passado, no Estádio de Wembley, em Londres, numa final disputada com o escocês David Coulthard (ex-piloto de Fórmula 1). A primeira edição desta corrida realizou-se há 21 anos. Na época, celebrava o décimo aniversário do Campeonato do Mundo de Rallys e serviu para homenagear o piloto finlandês Henri Toivonen (que tinha morrido dois anos antes, quando liderava o campeonato do mundo). Hoje, o troféu Henri Toivonen Memorial continua a ser atribuído ao vencedor da corrida individual da ROC.
Rumo ao pódio
Em Portugal, a ROC será disputada por 21 pilotos portugueses e estrangeiros. Há nove pilotos nacionais que irão disputar o título de melhor campeão português. “São pilotos de velocidade, de rali, de todo-o-terreno e jovens esperanças do desporto motorizado”, revela Ni Amorim, organizador da corrida. São eles Carlos Sousa, Armindo Araújo, Bruno Magalhães, António Félix da Costa, Pedro Matos Chaves, Filipe Albuquerque, José Pedro Fontes, Miguel Barbosa, além do próprio Ni Amorim, que vai também correr nesta competição. Entre os estrangeiros, contam-se os espanhóis (Carlos Sainz, Sérgio Vallejo, Jaime Alguersuari, Daniel Sordo), um australiano (Michael Doohan), o alemão (Heinz-Harald Frentzen), os italianos (Gigi Galli, Miki Biasion, Emanuelle Pirro), os ingleses (Andy Priaulx, Johnny Herbert) e o monegasco (Clivio Piccione). Sem esquecer a participação de uma das responsáveis pela ROC, a francesa Michèle Mouton, 57 anos, uma das mulheres mais bem sucedidas do automobilismo mundial (a primeira e única a vencer uma etapa do Campeonato Mundial de Rali – WRC – em 1981), que irá conduzir um Audi Quattro S1 Grupo B. Aliás, a piloto já se encontra no Porto desde a semana passada a supervisionar a construção da pista (cuja mentora foi ela própria). Esta quinta–feira, dia 4, decorrem os primeiros ensaios gerais entre os pilotos. Por alguns dias, serão os motores (em vez da bola) a rolar no Estádio do Dragão.
As corridas
>> Race of Champions
Southern Europe
Quatro equipas de dois pilotos, de Portugal, Espanha, Itália e Áustria, competem pelo título da nação mais rápida da Europa do Sul. A equipa vencedora tem acesso à final de Pequim.
>> Race of Champions Iberia
Quatro dos melhores pilotos portugueses disputam o título ibérico com quatro pilotos espanhóis.
>> Race of Champions Portugal
O vencedor será considerado o piloto português mais rápido.
>> Race of Champions Legends
Oito campeões do mundo competem pelo melhor título de todos os tempos.
Os pilotos
Carlos Sainz – 47 anos
Sérgio Vallejo – 42 anos
Daniel Sordo – 26 anos
Michael Doohan – 44 anos
Carlos Sousa – 43 anos
Bruno Magalhães – 29 anos
Armindo Araújo – 32 anos
Gigi Galli – 36 anos
Miki Biasion – 51 anos
Andy Priaulx – 35 anos
Jaime Alguersuari – 19 anos
Heinz-Harald Frentzen – 42 anos
Johnny Herbert – 45 anos
Emannuele Pirro – 47 anos
António Félix da Costa – 18 anos
Clivio Piccione – 25 anos
Pedro Matos Chaves – 44 anos
José Pedro Fontes – 33 anos
Miguel Barbosa – 30 anos
Filipe Albuquerque – 23 anos
Ni Amorim – 46 anos
Programa
Race of Champions
>> 6 Jun, Sáb
18h15-19h15 Visita ao Paddock (exclusiva para portadores de bilhetes)
19h45-20h Exibições
20h-21h30 Race of Champions Portugal (TRANSMISSÃO RTPN 20h45-22h)
21h35-22h25 Exibições
22h30-24h Race of Champions Legends (TRANSMISSÃO RTP1 22h45-24h)
>> 7 Jun, Dom
12h35-13h35 Visita ao Paddock (exclusiva para portadores de bilhetes)
14h15-14h30 Exibições
14h30-16h Race of Champions Ibéria (TRANSMISSÃO RTP2 / 15h15-16h30)
16h15-16h45 Exibições
17h-18h30 Race of Champions South Europe
(TRANSMISSÃO RTP1 17h15-18h30)
19:30 Encerramento
Os números
>> Investimento de 3, 2 milhões de euros
>> 1 km de pista (aproximadamente)
>> 1800 toneladas de asfalto
>> 2200 toneladas de camada de suporte
>> Ponte com 100 toneladas
>> 50 pessoas durante 5 dias para a construção da pista
>> 3 dias para desmontar
>> 45 mil lugares/dia
>> Bilhetes Bancada: €16/dia; €24 (2 dias); Central (com acesso Paddock) €150 (dia) a €225 (2 dias).
‘Vamos ter casa cheia’
O piloto português Ni Amorim, administrador da GNI Eventos, é responsável pela vinda da corrida para Portugal. Com 46 anos, este pode até ser considerado um dos maiores desafios da sua carreira
Por onde já passou a Race of Champions (ROC) ao longo destes 21 anos?
Por França, Inglaterra, Madrid, Las Palmas, agora por Portugal e, em Outubro, estará em Pequim.
Como decorreram as negociações?
Começaram em Maio do ano passado. Iniciámos as negociações com a IMP (International Media Productions). Vamos organizar esta corrida durante, pelo menos, três anos. Agora realiza-se no Dragão, nos anos seguintes logo decidiremos.
E quais foram as razões que pesaram para a escolha do Dragão?
Uma das razões para ser no Porto foi graças ao excelente estádio; outra porque o Norte do País tem uma grande tradição em gostar de automobilismo; e a terceira pela proximidade com Espanha.
Como está a “corrida” dos espanhóis à compra de bilhetes?
Contamos que entre 15 a 20% do estádio seja ocupado por espanhóis. Além de termos uma grande campanha a decorrer na Galiza.
Qual poderá ser o maior duelo entre pilotos?
Acho que na ROC Legends, o Andy Priaulx é um importante candidato a ganhar. Mas há outros pilotos muito bons como o Carlos Sainz, o Emanuelle Pirro, o Daniel Sordo…
E entre os portugueses, quem poderá vir a ganhar a ROC Portugal?
O Armindo Araújo pode chegar longe, para não falar no Filipe Albuquerque que é muito jovem…
Como foi feita a selecção entre os portugueses?
O objectivo era ter diferentes categorias do desporto automóvel entre jovens e consagrados.
Qual foi a opinião de Michèle Mouton sobre o local?
Achou que o estádio tem condições excelentes, que o clima era bom, e que os portugueses gostam de desporto automóvel. Ela ainda se lembra disso do tempo em que participava nos ralis.