É uma nova e “emocionante” descoberta que pode mudar a forma como se olha para o cancro do pâncreas, a segunda causa de morte por cancro em Portugal – só no País, surgem anualmente cerca de 1800 casos de cancro do pâncreas, que é silencioso e, geralmente, detetado já em estadios avançados.
Um grupo de investigadores do Institute of Cancer Research (ICR), em Londres, e da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, afirma ter descoberto uma forma de bloquear uma fonte de alimento “de reserva” deste cancro, o que pode, revelando bons resultados, criar novas esperanças de haver um tratamento inovador para a doença.
Através de uma técnica laboratorial denominada microarranjo genético, que permite analisar milhares de características celulares de uma vez só , os investigadores procuraram que nutrientes são utilizados pelas células cancerígenas pancreáticas ao longo do tempo.
Depois dessa análise, a equipa concluiu que, ao diminuir, através de novos medicamentos, a atividade da molécula uridina, que alimenta, além do cancro do pâncreas, outros tipos de cancro, como o do estômago, pulmão e cérebro, pode vir a tratar-se até a forma mais agressiva do cancro do pâncreas.
Apesar de esta molécula, que existe por todo o corpo, ser essencial ao bom funcionamento do metabolismo, os especialistas do estudo deram conta de que também serve como fonte de alimento para este cancro quando a glicose é escassa.
“Os cancros podem alimentar-se de uma molécula conhecida como uridina como um backup de emergência quando não conseguem ter acesso à glicose da qual normalmente dependem para se manterem vivos”, explica, citado pelo Daily Mail, Anguraj Sadanandam, um dos autores do estudo, do Institute of Cancer Research, acrescentando que “as células cancerígenas salvam tudo o que está disponível no seu ambiente e usam-no para seu próprio benefício”,
Desta forma, explica a equipa, a uridina, que está presente no ambiente à volta do tumor, vai permitir que as células cancerígenas continuem a crescer, mesmo quando a sua fonte de alimento habitual não está disponível. “Descobrimos que a forma mais mortal de cancro pancreático pode até mudar a sua “dieta” para conseguir sobreviver”, acrescenta Sadanandam.
Testes em ratos e análise de doentes com resultados promissores
Realizando experiências em laboratório com camundongos, a equipa descobriu que a uridina é degradada por uma enzima conhecida como uridina fosforilase-1 (UPP1), com o objetivo de produzir uma forma diferente de açúcar, a ribose, que pode alimentar as células cancerígenas.
A eliminação do gene UPP1 impediu que as células cancerígenas pancreáticas utilizassem a uridina, interrompendo o crescimento do tumor em grande parte.
Além disso, a equipa também analisou amostras de doentes e descobriu que altos níveis de UPP1 estavam associados à baixa taxa de sobrevida em pessoas com cancro pancreático, mas também noutros tipos de cancro.
Existe um aumento dos níveis de UPP1 quando existe uma sinalização celular, conhecida por sinalização KRAS, que promove o crescimento de muitos tipos de cancro, dizem ainda os investigadores, acrescentando que os medicamentos que bloqueiam essa sinalização também podem ser utilizados para bloquear a disponibilidade de uridina.
A equipa pretende, agora, explorar como pode utilizar esta molécula para “monitorizar as respostas terapêuticas existentes para o cancro pancreático e, com sorte, desenvolver novos medicamentos”.