Alguns investigadores estimam que a misofonia, uma condição que desencadeia reações intensas e negativas a determinados sons e ruídos, afete mais de 10% da população, com até 4% a experienciar sintomas significativos o suficiente para interferirem no seu funcionamento diário. Esses sons podem incluir pessoas a mastigarem ou a espirrarem, mas também os dos ponteiros do relógio e dos motores de carros.
Agora, o primeiro estudo britânico sobre misofonia, realizado por investigadores da Universidade de Oxford, mostrou que esta condição pode afetar uma em cada cinco pessoas. Os investigadores criaram um questionário para perceberem os gatilhos de sons dos mais de 700 voluntários e analisarem reações e intensidade de resposta, identificando os participantes para quem a condição é um “fardo” nas suas vidas.
Além disso, a equipa identificou sinais de alerta, para quem tem dúvidas se tem ou não misofonia. De acordo com a equipa, caso uma pessoa fique stressada quando ouve sons de respiração e deglutição normais, por exemplo, esse pode ser um sinal de que a pessoa pode sofrer de misofonia, já que esses sons não são incomodativos para a maioria da população. Os investigadores também explicam que estes doentes têm, geralmente, respostas aos sons que podem desencadear raiva ou uma necessidade de fuga.
No geral, o estudo concluiu que a misofonia afetou 18,4% dos voluntários de maneira significativa, mas apenas 2,3% achavam que tinham a condição e só 13,6% tinham ouvido falar dela. Como explica Silia Vitoratou, autora principal da investigação, do King’s College London, “a maioria das pessoas com misofonia não tem um nome para descrever o que está a sentir”.
“A experiência da misofonia é mais do que apenas ficar incomodado com um som. A misofonia pode causar sentimentos de desamparo e de prisão quando as pessoas não conseguem livrar-se de um som desagradável”, afirma Jane Gregory, autora sénior do estudo, do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford. “Muitas vezes, as pessoas com misofonia sentem-se mal consigo mesmas por reagirem da forma como reagem, especialmente quando estão a reagir a sons que vêm de entes queridos”, acrescenta.
Os autores do estudo deram, também, conta de que pessoas que não sofrem de misofonia sentem-se, normalmente, irritadas com certos ruídos. Contudo, as respostas a certos sons de quem sofre com esta condição são mais intensas; além disso, estas pessoas têm mais tendência a relatar sentimentos de angústia, raiva ou pânico.
A análise, que incluiu 37 gatilhos de sons comuns e 25 reações diferentes no questionário, foi publicado na revista científica PLOS One, e não identificou diferenças no que diz respeito à maior ou menor propensão para desenvolver esta doença entre homens e mulheres.
Reconhecida desde 1990 como condição médica, a misofonia é uma síndrome que ainda levanta muitas questões, tanto no que toca à sua origem como ao seu tratamento. Os seus sintomas incluem hipersensibilidade a sons específicos do quotidiano, por exemplo mastigar, sugar, arrotar, o barulho de talheres, bocejar, assobiar pelo nariz, fungar, limpar a garganta e outros, sons esses que podem conduzir a reações extremas e desproporcionais como irritabilidade, raiva e até pânico.
Este tipo de reações, assim como os sons concretos que as suscitam, variam de pessoa para pessoa e os sintomas podem impactar os doentes de formas diferentes. Algumas pessoas podem sentir, nestes casos, angústia, raiva e até pânico, uma vez que não têm controlo sobre as suas emoções. Nos casos mais graves, esta doença pode resultar em isolamento social e ter impactos significativos na rotina dos doentes.