Uma nova variante do SARS-CoV-2, designada XBB.1.5, identificada pela primeira vez em agosto, na Índia, está a ser motivo de preocupação nos EUA, mas também no Reino Unido, por ter, dizem especialistas norte-americanos, uma capacidade de propagação muito superior às restantes variantes encontradas até agora.
De acordo com o investigador Yunlong Richard Cao, da Universidade de Pequim, esta grande capacidade de contágio pode ser explicada por uma mutação, a F486P, que permite que o vírus se ligue mais facilmente às células que infeta, mais especificamente ao receptor ACE2, presente nas células humanas. É desta maneira que a nova variante cria uma grande capacidade de infetar células, escapando aos anticorpos da variante XBB.1.
Só nos EUA, a XBB.1.5, uma fusão das variantes BJ.1 e BA.2.75, já é a variante que tem provocado mais infeções: segundo dados divulgados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), na semana entre o Natal e o ano novo, de 25 a 31 de dezembro, esta estirpe representou cerca de 40% dos casos de Covid-19, um aumento de 20% em relação à semana anterior. No mesmo período, o número de casos relativos à variante maioritária no país e na Europa, a BQ.1.1, diminuiu de 36% para 27% nos EUA.
Lawrence Young, virologista da Universidade de Warwick, no Reino Unido, afirma, em entrevista ao Daily Mail, que “a diminuição da imunidade, passar mais tempo em espaços interiores, que expõe o organismo a alteração de temperaturas, e a falta de outros cuidados, tais como o uso de máscaras faciais” estão a contribuir para o surto nos EUA.
Já o número de pessoas com covid-19 internadas em Nova Iorque atingiu foi de quase 4 mil no penúltimo dia do ano – no dia 23, era cerca de 3600, apesar de a causa deste aumento ser atribuída ao aumento do número de infeções e não a uma maior gravidade de sintomas provocada pela variante. De facto, não existe indicação até ao momento de que esta variante possa provocar sintomas mais graves do que as anteriores estirpes.
Estima-se que, nas próximas semanas, a nova variante, pertencente à família da Ómicron, seja responsável por um aumento acentuado de novos casos, assim como de internamentos, por todo o mundo, principalmente de pessoas pertencentes a grupos mais vulneráveis, como os idosos.
“A previsão é que a nova variante também prevaleça na Europa, já que o sistema imunológico da população é bastante semelhante entre os dois continentes”, refere, em declarações ao jornal espanhol La Vanguardia, Julià Blanco, líder do grupo de virologia e imunologia celular do Instituto IrsiCaixa. “Neste momento, a XBB.1.5 é provavelmente mais perigosa do que as variantes que circulam na China”. Contudo, a especialista acredita que “graças às vacinas, a XBB.1.5 não deve mudar radicalmente a situação”.
Também o virologista Adolfo García-Sastre, do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, refere que não há necessidade de grande alarme para já. “Não parece que vai provocar mais problemas do que os que já existem”, mesmo que pareça “espalhar-se mais facilmente do que outras variantes da ómicron”.
Ao Daily Mail, Isaac Bogoch, infecciologista e epidemiologista da Universidade de Toronto, afirma que “não se pode ignorar que a recuperação da infeção, juntamente com a vacinação, fornece alguma proteção significativa ao nível comunitário”. “Infelizmente, ainda assistiremos a um aumento nos internamentos e mortes com a XBB, mas talvez em menor grau em comparação com as estirpes anteriores”, acrescenta.
“Duvido que a XBB.1.5 provoque uma grande disrupção nos serviços de saúde, mas precisamos de esperar algumas semanas para ver o que vai acontecer”, diz ainda Paul Hunter, especialista em doenças infecciosas na Universidade de East Anglia, em Norwich, Inglaterra.
De acordo com o Sanger Institute, centro de vigilância de Covid-19 do Reino Unido, 4% dos casos de Covid-19 identificados na semana até 17 de dezembro foram provocados pela XBB.1.5.