DCVax-L é o nome da vacina que está a ter resultados positivos no que diz respeito ao aumento da esperança de vida de quem sofre de glioblastoma multiforme, o tumor cerebral primário mais agressivo e comum nos adultos. Os resultados, partilhados esta quinta-feira no Journal of American Medical Association Oncology, revelaram que a DCVax-L pode prolongar a sobrevivência de doentes diagnosticados com um tipo de tumor que, em média, põe fim à vida do doente entre 12 a 18 meses após o diagnóstico.
O estudo foi desenvolvido ao longo de oito anos no King’s College Hospital, em Londres, e em centros distribuídos pelos EUA, Canadá e Alemanha, e envolveu mais de 300 doentes, todos diagnosticados com glioblastoma.
Keyoumars Ashkan, neurocirurgião no hospital King’s College e principal investigador europeu do estudo, disse, em declarações ao The Guardian, que os resultados “são surpreendentes”. “A vacina demonstrou prolongar vida e, curiosamente, em pacientes tradicionalmente considerados com pior prognóstico. Vemos benefícios claros nos grupos de pacientes mais velhos, assim como nos doentes nos quais a cirurgia não foi possível”, adiantou.
Enquanto dois terços dos participantes receberam a vacina, juntamente com o tratamento por quimioterapia (temozolomida), os restantes tomaram um placebo e, mais tarde, o fizeram o tratamento por temozolomida.
A primeira parte do grupo, recém diagnosticada com glioblastoma, sobreviveu mais cerca de 19,3 meses após a experiência, em comparação com os 16,5 meses do segundo grupo. Por outro lado, 13% dos participantes injetados com DCVax-L viveram, pelo menos, cinco anos após o diagnóstico, sendo que o sobrevivente mais longo ultrapassou os oito anos.
O feito foi conseguido graças ao processo de imunoterapia que utiliza o próprio sistema imunitário do doente para combater o tumor. “A vacina é produzida através da combinação de proteínas do tumor do próprio paciente com os seus glóbulos brancos. Isso ensina as células brancas a reconhecerem o tumor”, explica Ashkan. “Quando a vacina é administrada, esses glóbulos brancos ajudam o sistema imunológico do paciente a reconhecer o tumor como algo contra o qual precisa de lutar e destruir”, acrescenta.
Em relação aos efeitos secundários, os resultados também são positivos. Ao contrário do que se verifica com os tratamentos por quimioterapia e radioterapia – associados a um grande número de efeitos colaterais-, apenas cinco dos 331 envolvidos relataram efeitos secundários que, segundo os investigadores, podem estar relacionados com outro tratamento.
É a primeira vez em 17 anos que um tratamento demonstra prolongar a vida de quem é recentemente diagnosticado com glioblastoma, afirmam os investigadores. De acordo com Ashkan, o próximo passo é “aplicar a mesma tecnologia para desenvolver tratamentos para outras formas de tumores”.