O nosso horário de alimentação afeta significativamente a utilização de energia no organismo, o nosso apetite e a forma como armazenamos gordura, foi a conclusão a que chegou um grupo de investigadores do Hospital Universitário de Boston, num estudo, publicado na revista norte-americana Cell Metabolism.
A investigação foi pequena – apenas 16 pessoas com índice de massa corporal (IMC) acima do normal ou mesmo já na faixa da obesidade -, mas rigorosamente controlada. Os participantes foram divididos em dois grupos, com horários de alimentação distintos mas com refeições idênticas e caloricamente controladas pelos investigadores. Também a atividade física, o horário de sono e até a temperatura ambiente e exposição à luz dos participantes foram controlados.
Enquanto, no primeiro grupo, os participantes receberam as refeições às 8h, 12h e 16h, no segundo grupo as refeições realizaram-se às 12h, 16h e 20h. Ambos os grupos foram documentando regularmente a sua fome e apetite, forneceram amostras de sangue ao longo do dia, mediram a temperatura corporal e a utilização de energia.
Ao fim das quatro semanas de estudo, os investigadores descobriram que o grupo que se alimentou mais tarde, ao comer quatro horas após o primeiro grupo, sentiu o dobro do apetite, o que pode ser explicado pela variação dos níveis de leptina e grelina, hormonas responsáveis pela regulação do apetite.
Se, por um lado, os níveis de leptina, a hormona que indica saciedade, foram reduzindo ao longo do dia nos participantes que se alimentaram tardiamente, os níveis de grelina, que estimula o apetite, foram mais elevados neste grupo. Isto significa que comer mais tarde pode fazer com que sintamos mais fome, sem que nos sintamos tão saciados como se comêssemos mais cedo.
“Descobrimos que comer quatro horas depois faz uma diferença significativa nos nossos níveis de fome, na forma como queimamos calorias depois de comer e na forma como armazenamos gordura”, referiu a coautora do estudo Nina Vujovic, em comunicado de imprensa. Ao comer mais tarde, os participantes também queimaram calorias a um ritmo mais lento e foram encontradas alterações no tecido adiposo, tecido que possui células de gordura e serve como reserva de energia, que demonstraram que foram armazenadas mais calorias num horário de alimentação tardio.
Além disso, os resultados evidenciaram que os voluntários que se alimentaram mais tarde sentiam maior desejo por alimentos ricos em sal e amido, o que, na perspetiva dos investigadores, pode estar relacionado com o facto de se desejar alimentos ricos em energia quando se sente fome.
De acordo com Frank Scheer, diretor do Programa de Cronobiologia Médica da Divisão de Sono e Distúrbios Circadianos de Brigham, a descoberta permite estabelecer uma relação entre o horário das refeições e o risco de desenvolver obesidade e oferece uma noção para compreender como é que tal relação é estabelecida.
Apesar dos resultados promissores, a investigação teve a limitação de conter uma amostra maioritariamente masculina, existindo somente cinco mulheres em 16 participantes. Para o futuro, o grupo de investigação pretende recrutar mais elementos do sexo feminino, de modo a compreender se os resultados podem ser generalizados a uma população mais ampla.