Depois de um ano marcado pela sucessão de novas variantes do vírus SAR-CoV-2, a Ómicron parece ter chegado para ficar. Mas, segundo o epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, a variante está a evoluir muito rapidamente e as subvariantes que têm surgido nos últimos tempos são mais que muitas.
O especialista revela também que, apesar de estas subvariantes estarem a evoluir em direções diferentes, mantêm todas um traço em comum: as mutações características da Ómicron que lhes permitem evadir o sistema imunitário.
Neste momento, a subvariante dominante é a BA.5, algo que, segundo o Relatório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), verifica-se desde dia 9 de maio deste ano. Esta sublinhagem era, a 23 de setembro, responsável por 95% das infeções, segundo o mais recente relatório do INSA.
O rápido aparecimento de muitas subvariantes não é motivo para alarme, descansa Manuel Carmo Gomes. E explica ainda que, se o ritmo de crescimento das mesmas se mantiver igual ao registado atualmente, “elas podem ultrapassar a BA.5 algures ao longo de outubro, mas não há garantia nenhuma que essas taxas de crescimento se mantenham ou que não surjam outras subvariantes entretanto”.
Como explica o investigador principal do Instituto de Medicina Molecular (IMM) Miguel Prudêncio, “desde que apareceu a BA.5, ainda não surgiu uma outra que se sobreponha em termos de dominância, ou seja, que tenha mais capacidade de se transmitir e de infetar um maior número de pessoas”.
O facto de a BA.5 ser a subvariante mais transmissível não quer dizer, porém, que as infeções por ela causadas sejam mais graves. Ou seja, como refere Carmo Gomes, vamos continuar a ter reinfeções e as pessoas que já foram infetadas com a Ómicron voltarão a ser infetadas, se se expuserem muito. Porém não há razão para acreditar que terão doença mais grave. “Em princípio, até terão sintomas mais leves”.
Miguel Prudêncio considera que, “para já, temos uma situação razoavelmente estável”, e acrescenta, precisamente, que não há indicação ou dados que sustentem que, apesar de mais transmissível, a infeção causada pela BA.5 seja mais agressiva ou mais perigosa que as anteriores.
O mesmo se aplica às subvariantes que aprecem quase diariamente e ainda não ultrapassaram a BA.5.
Como é que um vírus ganha mutações?
Os vírus adquirem mutações ao longo do tempo e, como explica Miguel Prudêncio, estas acontecem de forma espontânea, são “consequência biológica da sua replicação e dão origem a alterações na sua composição genética”. Algumas destas modificações aumentam a sua transmissibilidade, outras diminuem.
Mas por que razão, após um ano com tantas variantes diferentes, a Ómicron acabou por ser senhora e rainha e ainda não apareceu nenhuma outra variante mais transmissível? Existem duas razões que podem explicar o fenómeno.
Por que é que a Omicron tem perdurado?
Em primeiro lugar, Miguel Prudêncio relembra que, enquanto que no início da pandemia todas as hipóteses estavam em aberto, agora, para uma variante conseguir tornar-se dominante em relação a outra tem de adquirir mutações que lhe confiram alguma vantagem, para além de todas as que já tem.
“É como se já tivéssemos, de certa forma, utilizado algumas das combinações possíveis e começa a ser mais complexo”, explica o especialista.
Em segundo lugar, também já existem muitas pessoas que, entretanto, adquiriram imunidade, através da infeção, da vacina, ou de ambas. Essa imunidade “vai, de certa forma, reduzir a capacidade que o vírus tem de se multiplicar sem qualquer tipo de constrangimento”.
Uma vez que o que causa as mutações é precisamente o processo de replicação, Miguel Prudêncio aponta que, “quando temos algo a contrariá-lo, estamos a reduzir o número de partículas virais e de replicações que acontecem”, logo, a probabilidade do surgimento de mais variantes.
“Estamos a cair numa situação em que dificilmente nos vamos livrar da Omicron”, afirma Manuel Carmo Gomes. O epidemiologista e Miguel Prudêncio recordam, porém, que “isto não quer dizer que não possa vir a aparecer uma variante mais infecciosa, da maré de novas subvariantes que estão sempre a aparecer”.
Por esta razão, torna-se ainda mais importante a campanha de vacinação sazonal que, este ano, inclui, para certas pessoas, as novas vacinas contra a Covid-19 , especificamente desenhadas para combater também a variante Ómicron.