A fim de prever o modo como se comportarão determinadas doenças típicas do Inverno, a Europa costuma ter os olhos postos no Hemisfério Sul. Mas, ao que parece, as notícias que chegam este ano não são as mais tranquilizadoras.
A Austrália tem assistido, desde junho deste ano, a um número de casos de Influenza muito mais elevado do que nos anos anteriores. O país não registava tantas infeções desde 2017, o pior ano de gripe na Austrália desde a epidemia de gripe A de 2009. Além disso, estes casos começaram a surgir antes da habitual época da gripe.
Segundo um estudo do departamento de Ciências Respiratórias da universidade inglesa de Leicester, publicado a 3 de agosto na revista científica The Lancet Infectious Deseases, o aumento exponencial de casos deve-se, provavelmente, ao relaxamento das medidas de mitigação da Covid-19 que, durante dois anos, acabaram por fazer com que gripe sazonal circulasse muito pouco.
Os investigadores defendem que, como resultado destas medidas, “muito provavelmente a imunidade de grupo relativamente aos vírus que estão a circular diminuiu substancialmente relativamente aos anos anteriores”. A 19 de junho, 85% dos casos de gripe na Austrália eram causados pelo vírus da Influenza A.
A classificação dos vírus influenza A engloba diferentes subtipos, de acordo com a composição das proteínas que se encontram na sua superfície. O H3N2, responsável pelas infeções na Austrália, é um dos 131 identificados até agora. Este tipo de Influenza é também “conhecido por causar epidemias mais fortes”, sublinham os investigadores.
Porém, tanto na Austrália como no Reino Unido, têm-se registado muitas recusas em tomar a vacina, sobretudo de determinados grupos que dela beneficiariam bastante, por estarem em risco para doença grave, como é o caso das mulheres grávidas e das crianças.
“Os dados australianos alertam-nos para uma temporada de gripe mais precoce e mais grave no hemisfério norte”, lê-se ainda no estudo. Uma vez que a única forma de evitar que a doença se espalhe na comunidade é através da vacinação, os autores criticam a decisão do Comité de Vacinação e Imunização inglês, que retirou do grupo elegível para ser vacinado as pessoas entre os 50 e os 64 anos e os jovens entre os 11 e os 15 anos de idade.
Segundo os investigadores, vacinar os jovens é importante, pois estes, pelo menos no hemisfério sul, parecem estar a ser uma das faixas etárias mais responsável pela transmissão da doença.
A importância de evitar uma epidemia particularmente grave de gripe prende-se, não só com assuntos de saúde pessoal, como de saúde pública. É que, em ano de crise, convém recordar que o peso económico da Influenza na Europa vai de seis a 14 mil milhões de euros anuais.
Além disso, a Organização Mundial de Saúde estima que, do total de mil milhões de infeções anuais em todo o mundo, três a cinco milhões sejam graves e 290 a 650 mil acabem em morte.
E Portugal?
Em Portugal, a campanha de vacinação contra a gripe, este ano feita em conjunto com a da Covid-19, arrancou a 7 de setembro, deve durar cem dias e pretende imunizar cerca de três milhões de pessoas até dezembro, protegendo os grupos mais vulneráveis.
No nosso país, este ano, será utilizada pela primeira vez uma vacina contra a gripe de dose elevada, com uma composição antigénica superior à fórmula padrão e, portanto, com uma eficácia superior. Porém, à semelhança do Reino Unido, também Portugal não contempla nos grupos prioritários as faixas etárias mais novas.
Para receber gratuitamente a vacina da gripe é preciso ter mais de 65 anos, residir num lar de idosos, ser utente da rede nacional cuidados continuados, estar grávida, ser profissional de saúde ou prestador de cuidados, ou ainda ser uma criança com mais de seis com patologias crónicas.