As doenças respiratórias continuam a ser uma das principais causas de morte em Portugal, de acordo com o Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, e a terceira principal causa de morte no mundo, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até 2030, venha a ser a principal causa de morte. Como é que isto está a acontecer?
“Segundo a OMS, o tabagismo e a poluição atmosférica estão entre os principais fatores de risco para as doenças respiratórias, mas também existe a idade, as condições socioeconómicas e outras morbilidades” que podem ter influência, diz Carlos Alves, Pneumologista e Consultor de Pneumologia do Centro Hospitalar Barreiro Montijo, em declarações à VISÃO.
No País, morrem, todos os dias, cerca de 36 pessoas devido a problemas respiratórios, o que representa cerca de 12% do número total de mortes em Portugal. E a pneumonia está no top das doenças respiratórias mais mortais. “Portugal está entre os países com maior taxa de mortalidade por pneumonia em comparação com outros países da OCDE, e é nos escalões etários mais elevados que se verifica uma mortalidade superior”, informa o médico. De facto, a pneumonia é a 2ª principal causa de morte acima dos 85 anos, bem acima da doença isquémica do coração e do enfarte agudo do miocárdio, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (apenas superada pelas doenças cerebrovasculares).
Ao mesmo tempo, o número de casos no País de doenças respiratórias tem aumentado cada vez mais: por exemplo, o número de pessoas com diagnóstico de asma e doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) aumentou cerca de 182% e 152%, respetivamente, entre 2011 e 2019, apesar de Portugal estar nos grupo de países de baixa mortalidade por asma.
E os diagnósticos deste tipo de doenças também chegam, muitas vezes, demasiado tarde. “Por exemplo, no caso da DPOC, o doente associa os sintomas iniciais à idade e ao consumo do tabaco e não ao desenvolvimento da doença”, refere o pneumologista. Esta doença respiratória progressiva resulta
da obstrução das vias áreas e os sintomas mais comuns são tosse, expetoração e dispneia (falta de ar).
Além disso, a espirometria, exame realizado como método de diagnóstico para detetar doenças que afetam os pulmões, e que consiste na medição da quantidade de ar que entra e saí do pulmão e da rapidez com que o ar circula dentro e fora deste órgão, ainda “não está implementada como seria desejado”, defende Carlos Alves. “O diagnóstico tardio da DPOC leva ao adiamento de medidas farmacológicas e não farmacológicas essenciais para a prevenção das exacerbações, que são a principal causa de mortalidade na DPOC”, acrescenta. Uma exacerbação aguda desta doença reflete-se, normalmente, num aumento da dificuldade em respirar, agravamento da tosse e respiração ruidosa, por exemplo.
Já no caso do cancro do pulmão, por exemplo, a doença manifesta-se de uma forma silenciosa nos estadios iniciais e, por isso, quando o doente procura um médico, a doença já está numa fase adiantada, refere o médico. O diagnóstico precoce é “um passo fundamental” para evitar que as doenças evoluam para as suas formas mais graves”, reforça ainda. Por exemplo, na DPOC, explica, a reabilitação pulmonar é essencial para prevenir um declínio mais rápido da doença.
É possível reverter este cenário? Sim, mas ainda há muito caminho pela frente
“Evitar comportamentos de risco, como o consumo do tabaco e da exposição a fatores poluentes” é um passo muito importante para podermos prevenir as “doenças respiratórias e a mortalidade associada a essas doenças”, afirma Carlos Alves, acrescentando que “os hábitos tabágicos são o principal fator de risco para o desenvolvimento da DPOC e cancro do pulmão, além do impacto que têm noutras doenças do aparelho respiratórios, como a asma”.
Para prevenir pneumonias, o médico aponta que a vacinação – as vacinas pneumocócica e da gripe são recomendadas, em particular nos grupos de risco – é “a medida mais eficaz”, também para evitar o desenvolvimento mais grave da doença.
Além disso, seguir um “estilo de vida saudável, que passa pela prática de exercício físico, por respeitar os períodos de sono” e também por uma alimentação regrada, é “fundamental” para o desenvolvimento e normal funcionamento do nosso sistema imunitário, refere o pneumologista. “Ter a doença de base controlada, mesmo que não seja respiratória, é também fundamental para evitar o internamento. É nos hospitais que estão as formas de pneumonias mais graves e resistentes aos antibióticos”, afirma.
O médico diz acreditar que apostar na prevenção é a forma mais eficaz e mais barata de combater as doenças. “Os custos associados ao tratamento são sempre mais elevados que os da prevenção. A aposta nas campanhas anti-tabágicas, a promoção da adoção de hábitos de vida saudáveis, a vacinação e a prevenção das alergias são essenciais para prevenir o aparecimento de doenças graves como a DPOC, a asma e o cancro do pulmão”, refere.
Carlos Alves afirma ainda que é “necessário” haver uma “excelente articulação entre os cuidados de saúde primários e as especialidades hospitalares”, com o objetivo de referenciar os doentes certos em tempo útil e evitar a referenciação de pacientes que podem e devem ser seguidos pelo médico de família”. Isto vai permitir, remata o pneumologista, “reduzir o tempo em listas de espera, realizar mais diagnósticos em tempo útil, ter uma utilização mais eficiente dos recursos na área da saúde” e proporcionar ao doente acesso ao tratamento mais adequado.