É desde 2019 que o foco do projeto NOVIRUSES2BRAIN e do grupo de investigação científica, liderado por Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular, é desenvolver um medicamento capaz de chegar a partes muito protegidas do corpo, como o cérebro ou, no caso das grávidas, os fetos.
Com a consciência de que, por causa das alterações climáticas, algumas espécies de mosquitos que habitam em regiões tropicais têm transportado consigo vírus que causam danos neurológicos em alguns pacientes, o grupo adotou “o objetivo de criar um medicamento antiviral capaz de chegar ao cérebro, protegendo-o”. “O cérebro é muito protegido pela impermeabilidade das artérias que o irrigam à passagem de compostos estranhos, incluindo medicamentos”, explica à VISÃO Miguel Castanho.
“Este medicamento está a ser desenvolvido para ter duas características importantes: ser de largo espetro, porque uma mesma espécie de mosquitos pode transportar várias espécies de vírus, como Dengue, Febre Amarela ou Zika, e ser capaz de proteger o cérebro dos fetos em mulheres grávidas, porque um desses vírus, o Zika, tem capacidade de causar microcefalia nos bebés”, explica.
Mas como? Os fármacos estão a ser testados para passarem do sangue da mãe para o feto, através da chamada barreira hematoplacentária (barreira da placenta). “Tendo capacidade antiviral, podem inativar os vírus que causam danos neurológicos nos fetos, como o temível vírus Zika”, afirma o coordenador. Ainda não existem, atualmente, medicamentos disponíveis contra o Zika.
A ideia é este medicamento ter também a função de prevenção de doenças como o sarampo, Zika, Dengue, VIH e, desde 2020, o SARS-CoV-2. “Se tudo correr bem e depois de uma avaliação muito detalhada dos resultados, podem iniciar-se testes em humanos”, confirma.
Para desenvolver o projeto, o grupo do Instituto de Medicina Molecular aliou-se à Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, perita na produção de novos fármacos, e à Synovo, especialista em estudos de segurança toxicológica. O trabalho encontra-se em fase laboratorial experimental, com resultados positivos em animais.