As pessoas vacinadas que foram infetadas pelas subvariantes Ómicron BA.1 e BA.2 têm uma proteção contra a infeção com a subvariante BA.5, em circulação desde junho, e atualmente a prevalente, cerca de quatro vezes superior a pessoas vacinadas que nunca foram infetadas.
Esta é a principal conclusão do estudo realizado por investigadores portugueses e liderado por Luís Graça, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e por Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Publicado ontem na revista científica New England Journal of Medicine, a investigação foi feita com base nos dados do SINAVE – registo nacional de casos de Covid-19 – da população com mais de 12 anos residente em Portugal.
Até agora, desconhecia-se qual o grau de proteção que as infeções com as primeiras duas subvariantes davam aos infetados, sendo estes resultados importantes para a eficácia das novas vacinas bivalentes contra a Covid-19.
“A proteção conferida pela BA.1 contra a infeção pela subvariante BA.5 é crítica porque as vacinas adaptadas em ensaios clínicos são baseadas em BA.1”, referem os investigadores.
Aliás, hoje mesmo, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) deu luz verde às vacinas de segunda geração. As duas vacinas agora aprovadas, da Pfizer e da Moderna, foram fabricadas visando metade a variante original do vírus e metade a variante Ómicron – precisamente a subvariante BA.1.
De acordo com o regulador, as vacinas vão ser aplicadas como dose de reforço a pessoas maiores de 12 anos.
“As vacinas foram adaptadas (ou seja, atualizadas) para melhor corresponder às variantes circulantes do SARS-CoV-2. As vacinas adaptadas podem aumentar a proteção contra diferentes variantes e, portanto, é expectável que ajudem a manter a proteção ideal contra a Covid-19 à medida que o vírus evolui”, pode ler-se no comunicado da EMA.
De acordo com o estudo português, as pessoas que foram infetadas em 2020 e 2021, com outras variantes do vírus, desde a primeiras detetada em Wuhan, depois a Alfa e a Delta, também estão protegidas contra a BA.5, embora não de forma tão marcante como as que tiveram a BA.1 e a BA.2.
As percentagens de proteção dos infetados com as variantes anteriores variam entre os 53% e os os 63%, enquanto que nas duas primeiras linhagens da Ómicron esse número é de 80%.
Há a perceção de que a proteção dada pela infeção BA.1 ou BA.2 é muito baixa, já que o número de infeções com a BA.5 foi muito alto em Portugal, no entanto os dados da investigação indicam que
“essa perceção é provavelmente uma consequência do maior número de pessoas com infeção BA.1 ou BA.2 do que com infeção por outras subvariantes”, não sendo corroborada pelos dados. “As infeções com BA.1 ou BA.2 ocorreram perto do período de prevalência de BA.5”, notam os investigadores, o que não aconteceu com as variantes anteriores.
O estudo mostra que as pessoas vacinadas que foram infetadas – e numa população altamente vacinada como a nossa – estão mais protegidas contra a BA.5 do que as que não foram infetadas anteriormente.