A maioria dos infetados continua a poder transmitir a doença cinco dias após o início dos sintomas, ainda que sejam leves. Esta é a conclusão de um novo grande estudo, realizado por investigadores do Imperial College London, no Reino Unido, e que envolveu quase 60 participantes. Mas mais: a equipa deu conta de que, após sete dias do início dos sintomas, um quarto dos voluntários continuava infeccioso.
Do total de 57 voluntários (de centenas de contactos, entraram no estudo os que testaram positivo e a infeção foi apanhada no início) a duração da infecciosidade foi medida em 42 – aqueles em que foi possível estabelecer exatamente o início o final desse período.
Além do preenchimento de um questionário diário com os sintomas, os voluntários fizeram também testes PCR para a deteção do SARS-CoV-2. As amostras positivas eram depois analisadas para perceber se continham vírus capaz de infetar e em que medida.
O objetivo era perceber como e por quanto tempo os doentes eram contagiosos, assim como entender como se pode sair do isolamento em segurança, monitorizando de perto as pessoas nas suas casas desde o momento em que foram expostas ao vírus até deixarem de ser contagiosas, entre setembro de 2020 e março de 2021 e entre maio e outubro do mesmo ano, incluindo vacinados e não vacinados. Os investigadores também tiveram em conta a dinâmica conhecida pelas infeções com a Ómicron, apesar de não avaliarem a infecciosidade de infetados por esta variante.
Através da análise dos resultados, a equipa chegou a várias conclusões, além do nível de infecciosidade a cinco e sete dias após o início dos sintomas. De acordo com a equipa, apenas um em cada cinco participantes tinha a capacidade de transmitir o vírus antes de começar a ter qualquer sintoma, ou seja, 80% não era infecciosos antes do surgimento dos sintomas.
Uma outra conclusão da equipa teve a ver com os testes rápidos à Covid-19, já que a equipa pretendia perceber também a sua precisão: os investigadores concluíram que, apesar de estes testes não serem eficazes a detetar o início da infecciosidade, identificam com mais precisão quando alguém já não está contagioso e pode sair do isolamento em segurança.
Segundo Seran Hakki, do Imperial’s National Heart and Lung Institute, em Londres, no Reino Unido, e uma das autoras do estudo, publicado no The Lancet Respiratory Medicine, este estudo é tem relevância também porque existe “falta de clareza sobre como sair do isolamento em segurança”. “Antes da investigação, estávamos a perder metade do quadro sobre infecciosidade, porque é difícil saber quando as pessoas são expostas pela primeira vez ao SARS-CoV-2 e quando se tornam infecciosas”, afirma, por seu lado, Ajit Lalvani, outro autor do estudo.
“Utilizando testes diários especiais para medir vírus infecciosos, não apenas PCR, e registos diários de sintomas, conseguimos definir a janela em que as pessoas são infecciosas. Isto é fundamental para controlar qualquer pandemia e não foi definido anteriormente para nenhuma infecção respiratória na comunidade”. diz ainda.
Já Hakki garante que este estudo “é o primeiro a avaliar quanto tempo dura a infecciosidade, utilizando evidências reais de infeções adquiridas naturalmente”. “As nossas descobertas podem fornecer orientações sobre como acabar com o isolamento em segurança”.
Apesar dos resultados, os investigadores notam que a maioria dos participantes do estudo era branca, de meia-idade, tinha um IMC saudável e não tinha condições médicas. Avaliando outras idades e pessoas com problemas de saúde, as conclusões poderiam ter sido outras.
Baseando-se nos resultados do estudo, os investigadores recomendam que as pessoas com Covid-19 se isolem durante cinco dias após o início dos sintomas e realizem testes rápidos a partir do sexto dia. Se esses testes forem negativos dois dias seguidos, é seguro sair do isolamento, afirmam. Se uma pessoa continuar com teste positivo, deve permanecer em isolamento e, para minimizar as hipóteses de transmissão, apenas deve sair do isolamento no 10º dia após o início dos sintomas.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde confirmou, em julho, a redução de sete para cinco dias o período de isolamento para casos de Covid-19 assintomáticos ou com doença ligeira.