Dois e meio depois do início da pandemia, vai-se fazendo alguma luz sobre uma das questões relacionadas com a infecão pelo SARS-CoV-2 que ainda persistem: a Covid prolongada, com os seus múltiplos sintomas a esticarem-se por semanas, meses e até mais de um ano após a fase aguda da doença.
Com base em dados recolhidos por uma aplicação móvel criada para o efeito, uma equipa de investigadores do King’s College London, Reino Unido, concluiu que a Covid longa pode ser agrupada em três tipos distintos, consoante os sintomas: neurológicos, respiratórios e sistémicos/inflamatórios e abdominais.
Vamos por partes, então:
- Sintomas neurológicos (os mais relatos frequentemente por quem sofre de Covid prolongada): ausência ou distorção do olfato e paladar, nevoeiro cerebral, dores de cabeça, delírio, depressão e fadiga;
- Sintomas respiratórios, com possíveis danos pulmonares: falta de ar grave, palpitações, fadiga e dor no peito;
- Sintomas sistémicos/inflamatórios e abdominais: dor musculoesquética, anemia, mialgias, perturbações gastrointestinais, indisposição e fadiga.
Para este estudo, ainda a aguardar revisão pelos pares, os investigadores analisaram dados de mais de 336 mil pessoas, das quais 1459 reportavam sintomas para lá das 12 semanas após a infeção aguda.
Segundo Liane S. Canas, uma das autoras do estudo, além da distinção daqueles três tipos de Covid longa, é possível ainda fazer uma associação de cada um às diferentes variantes e ao estado vacinal do doente: “Os nossos resultados sugerem que os sintomas respiratórios na população do Reino Unido são mais evidentes entre os pacientes não vacinados infetados com a forma inicial do vírus. Por outro lado, pacientes com as variantes Alfa e Delta mostraram uma maior incidência de sintomas neurológicos, como a anosmia [perda de olfato] e nevoeiro cerebral.”
Ao Medical News Today, a investigadora sublinha, no entanto, que não foi possível avaliar com segurança o efeito da vacinação em relação a estas duas variantes – no caso da Alfa, a primeira, não havia vacinados em número suficiente na altura em que era predominante; no caso da Delta, o contrário: os não vacinados que desenvolveram Covid prolongada não chegaram para tirar conclusões robustas.
Já os sintomas sistémicos/inflamatórios e abdominais não mostraram associação a nenhuma variante em específico.
Os dados relativos à Ómicron ainda estão a ser analisados, mas a equipa do King’s College adianta que os resultados iniciais apontam para que a prevalência da Covid prolongada entre os pacientes infetados com esta variante é “muito menor” quando comparada com as suas antecessoras.