Um novo estudo liderado por um grupo de estudantes e realizado em colaboração com a Scripps Institution of Oceanography (SIO) pode ajudar a mudar a perspetiva atual dada à poluição plástica nos oceanos. De acordo com os dados reunidos, apresentados nos passados dias 9 e 13 de junho na conferência da Sociedade Americana de Microbiologia em Washington, DC, os detritos plásticos que se encontram nos oceanos podem ser bons candidatos à produção de antibióticos.
Estudos anteriores estimam que entre cinco milhões a 13 milhões de toneladas de poluição plástica entram no oceano todos os anos, com cerca de 12 biliões a 125 biliões de microplásticos a flutuarem nos mares, um número que surpreendeu os cientistas em investigações recentes, nomeadamente tendo em conta que o intervalo anterior estavam compreendido entre os 5 e 50 biliões de partículas.
A problemática da poluição plástica tem vindo a ganhar cada vez mais proporção ao longo dos anos sendo o plástico um dos materiais artificiais mais facilmente encontrados no planeta Terra. Segundo dados da Statista de 2020, desde de 1950 que a produção de plástico tem vindo a aumentar continuamente de 2 milhões de toneladas por ano para 359 milhões em 2018, uma tendência que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE) se continuará a verificar até 2040, atingindo os 540 milhões.
O plástico é responsável por libertar microplásticos que não só contribuem para a poluição do planeta Terra, como podem também trazer consequências à saúde e bem-estar dos animais e humanos. Hoje essas consequências mantêm-se, mas as descobertas iniciais do estudo indicam que talvez possa ser retirado algum benefício das grandes quantidades de plástico que vagueiam pelos oceanos e são responsáveis pela formação de zonas como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico ou a poluição das regiões polares geladas do Oceano Ártico e da Antártida que, embora distantes da intervenção em massa humana, não fogem às consequências da poluição.
Um benefício entre os muitos malefícios
Embora os poluentes plásticos, desde os detritos maiores até aos mais reduzidos – os microplásticos – possam ter a tendência de formar aglomerados, criando áreas de superfície nas quais facilmente crescem e se formam ecossistemas microbianos que abrigam bactérias resistentes a antibióticos, existe uma possibilidade de encontrar nessas regiões a fonte para novos antibióticos capazes de combater infeções de superbactérias.
No estudo ainda não revisto por outros membros da comunidade científica, vários investigadores, incluindo os da SIO, avaliaram o potencial do plástico encontrado nos oceanos da Terra para ser uma fonte de novos antibióticos. Existem diversos tipos de bactérias, sendo que aquelas que se encontram no solo são as habitualmente utilizadas na produção de antibióticos que, por sua vez, serão utilizados no combate de outros tipos de bactérias. De acordo com os dados recolhidos, os plásticos oceânicos são responsáveis pela formação tanto de bactérias capazes de produzir antibióticos como de bactérias muito prejudiciais ao ser humano.
O estudo em causa implicou a incubação de plástico de polietileno, comum nos sacos de supermercado, encontrado nas águas próximas de Scripps Pier em La Jolla, Califórnia, durante um período de 90 dias. De acordo com os investigadores, o período de incubação permitiu isolar cinco bactérias produtoras de antibióticos, incluindo cepas de Bacillus, Phaeobacter e Vibrio. Também foram testados os isolados microbianos contra uma variedade de outras bactérias Gram-positivas e negativas – uma classificação utilizada para distinguir dois tipos de bactérias diferentes pela constituição da sua membrana exterior -, sendo o último tipo mais resistente a antibióticos.
As descobertas realizadas após as várias etapas mostram que os isolados microbianos eram eficazes não apenas contra bactérias comuns, mas também contra duas cepas de superbactérias resistentes a antibióticos. “Considerando a atual crise de antibióticos e o surgimento de superbactérias, é essencial procurar fontes alternativas de novos antibióticos. Esperamos expandir este projeto e caracterizar ainda mais os micróbios e os antibióticos que eles produzem”, disse a principal autora do estudo, Andrea Price, da National University, em comunicado.
O projeto está, de momento, apenas na sua fase inicial, mas espera-se que possa levar à produção de antibióticos, dando algum benefício aos resíduos de plástico nos oceanos. Ainda assim, é importante reforçar que qualquer benefício retirado da poluição plástica não se compararia aos enormes malefícios que a mesma tem para o meio ambiente.